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Estado de Minas

Dor permanece um ano após massacre em Realengo

Em 7 de abril do ano passado, Wellington Menezes, de 23 anos, invadiu uma escola no Rio, matou 12 crianças e se suicidou


postado em 07/04/2012 07:32 / atualizado em 07/04/2012 08:14

Ontem, cartazes em frente à Escola Municipal Tasso da Silveira lembravam os assassinatos dos 12 alunos (foto: Alvinho Duarte/ Folha Press)
Ontem, cartazes em frente à Escola Municipal Tasso da Silveira lembravam os assassinatos dos 12 alunos (foto: Alvinho Duarte/ Folha Press)
Há um ano os moradores de Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, viam acontecer ao seu lado o que entrou para a história como uma das maiores tragédias ocorridas no Brasil. Em 7 de abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira, um jovem de 23 anos conhecido no bairro pela timidez, entrou armado com dois revólveres na Escola Municipal Tasso da Silveira, logo depois do início das aulas, por volta das 8h30, e abriu fogo contra os alunos, matando 12 estudantes com idade entre 12 e 14 anos. Doze ficaram feridos. Em seguida, ao ser interceptado por policiais, ainda dentro da escola, cometeu suicídio.

Conforme investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Wellington era um ex-aluno da escola. Uma carta deixada pelo assassino apontava traços de transtorno mental. Durante buscas na casa do responsável pelo massacre de Realengo foram encontrados textos em que o atirador afirmava manter contato com grupos islâmicos extremistas. De fato, o que permaneceu foi o medo entre os moradores do bairro e, sobretudo, entre as vítimas de Wellington.

É o caso de Cristina Teles, que teve a vida alterada drasticamente: deixou o emprego de costureira e não larga a filha Ellen, de 10 anos, sobrevivente do massacre. “Tenho medo, só os que passam por isso entendem; sempre temos medo”, assegura a mulher de 48 anos, que agora trabalha por conta própria. A filha dela estava na escola Tasso da Silveira quando Wellington cometeu os crimes. Aos poucos Ellen recupera sua vida: no pátio, brinca com suas amigas, com um grande sorriso estampado no rosto e seus cabelos longos e escuros movendo-se no ritmo de seus pulos.

Para a mãe tem sido mais difícil. “Venho ao colégio todos os dias pelo menos três vezes: de manhã, quando a trago; ao meio-dia, para ver se está bem, se almoçou; e na hora da saída”, conta, enquanto observa a menina através do portão. “Ela recebeu tratamento psicológico e está bem, quis até voltar. Eu disse que iria matriculá-la em um colégio particular, mas ela não quis. ‘Mamãe, esse homem não vai acabar com o meu sonho de estudar’, ela me disse”, conta Cristina, comovida.

Não muito longe dali, debaixo de uma árvore para se proteger do sol impiedoso do meio-dia, Júlio César Barros, de 45, espera Andrea, sua filha de 13 anos que também estava presente no ataque. “Todo dia eu venho buscá-la, não quero que ela volte sozinha”, diz. A escola foi toda reformada e agora se apresenta como um impressionante edifício. Os risos e gritos do recreio ecoam entre os corredores como um antídoto para a dor daquele dia. “Foi um ano atípico. Logo depois do incidente começou a reforma física ao mesmo tempo em que a reforma psicológica, só que a física é sempre mais rápida”, comentou o diretor da escola, Luís Marduck.

No momento do tiroteio, Marduck não estava no prédio. Tinha deixado seu filho de 14 anos – outro sobrevivente – mais cedo e ido para uma reunião. “Deixei uma escola funcionando e voltei em um campo de pós-guerra”, lamentou. Um ano depois, ele se diz “surpreso” com os resultados do apoio psicológico e a atitude de alunos e professores para seguir adiante. “Eu não posso dizer que tudo está normal, mas nós mostramos que somos uma comunidade unida, uma família”, acrescentou. Antes da hora da saída, os alunos, emocionados, fizeram fila em frente a um homem vestido de coelho que entregou chocolates de Páscoa, enquanto outro grupo ensaiava uma dança com percussão.

PRIMO

Na bagunça aparece o melancólico rosto de Vitória Ferreira Santos, de 13 anos. Ela saiu com vida do dia 7 de abril, mas não seu primo Igor Moraes da Silva, uma das 12 crianças mortas por Wellington. “O pior é que ele se foi e não pode voltar. A família está muito mal, sentimos muita dor”. Esquecer o massacre parece ser impossível, confirmam os vizinhos de Realengo, mas seguir adiante é um objetivo. Assim, Teles pega sua bicicleta e se retira pela segunda vez no dia, esperando retornar para a hora do fim da aula de dança de Ellen, enquanto Júlio César abraça a filha no portão da escola, pega sua mochila e a coloca no ombro, para começarem juntos o caminho de volta para casa. (Com agências)


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