Para o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a morte do líder é apenas um dos vários crimes cometidos em virtude da disputa por terras na região. Segundo levantamento do Conselho Indígena de Roraima (CIR-RR), 21 índios foram assassinados durante os 30 anos de luta pela demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, sem que nenhum dos acusados tenha sido condenado. O conselho também contabiliza 54 ameaças de morte e 51 tentativas de homicídios contra índios, além de 80 casas destruídas e 71 prisões ilegais. Cinco roças e um centro de formação foram queimados e há pelo menos cinco casos de índios mantidos em cárcere privado.
Além de criticar a lentidão da Justiça, as entidades indigenistas apontam várias "inconsistências" na apuração e no julgamento do assassinato do líder indígena. Eles citam, por exemplo, o primeiro atestado de óbito, fornecido pelo Instituto Médico Legal (IML) de Roraima, que atestava que Mota havia morrido de "morte natural e indefinida". Posteriormente, uma segunda autopsia foi realizada no IML de Brasília, na qual foi constatado o assassinato a tiros.
Temendo que o julgamento voltasse a ser adiado, parentes do líder e outros índios promovem, desde terça-feira (15), manifestações para exigir agilidade nos julgamentos de todos os casos de índios assassinados em Roraima.
O coordenador regional da Funai em Boa Vista, André dos Santos Vasconcelos, informou à Agência Brasil que o órgão está acompanhando o julgamento. "A pedido da Justiça, trouxemos a Boa Vista dez índios e o servidor da Funai que trabalha na região até hoje. Eles irão testemunhar no caso e estamos acompanhando o julgamento".
Nessa quarta-feira, em nota, o juiz federal titular da 1ª Vara Federal de Roraima, Helder Girão Barreto, que preside o julgamento, garantiu que o tribunal tem feito tudo ao seu alcance para que %u201Cesse e qualquer outro processo tenham um julgamento rápido e legítimo%u201D, garantindo que os adiamentos se deram por razões técnicas, em respeito à lei.
Demarcada em 1998 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e homologada em 2005 por Lula, a reserva foi alvo de uma briga judicial com o governo de Roraima, que questionou no Supremo Tribunal Federal (STF) a demarcação em área contínua. Os opositores defendiam a demarcação em ilhas, para que seis grandes produtores de arroz e outros produtores rurais não índios pudessem permanecer na área.
Em 2009, o STF confirmou a demarcação em área contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR).