Como passar sua experiência para um público empresarial?
Como é tomar decisões em uma situação limite como aquela?
A vida é muito rápida. Todo mundo deseja viver uma vida boa, sem problemas e enfermidades. Mas a vida algumas vezes muda muito rápido. E se você quer sobreviver deve mudar rápido. As decisões mais importantes da minha vida já foram tomadas. Nos últimos 40 anos eu liderei uma empresa, criei outras quatro empresas e todas vão muito bem. Mas em nenhuma delas pude atingir um limite ou uma pressão mental de decisão que possa se comparar com um minuto ali. Uma decisão para saber se eu vivo ou morro é bem diferente de abrir uma empresa, fechar uma empresa, ou contratar e despedir empregados. Se você morre não há empresa, não há família, não há nada. Se a empresa faliu, você vai fazer outra coisa; abrir uma nova empresa, um restaurante, mas quando se morre não é assim. É muito diferente. E eu pude fazer essas empresas liderando da mesma forma que as pessoas pensam que eu liderei. Quando se vê de fora é uma coisa, e de dentro outra. Palestrantes falam da minha liderança, montanhistas dizem que sou o maior montanhista da história. Eu me pergunto: 'eu?'. Talvez eu fiz uma coisa extraordinária, mas quando você faz uma coisa não se dá conta. Gente de fora se dá conta e olha de uma forma diferente. Sou a mesma pessoa de antes, com os mesmos medos, dúvidas, qualidades, mas que vivi uma experiência diferente e felizmente com um final feliz. Me chamam para falar nas grandes universidades em enfrentar crises, trabalho em equipe e liderança. Eu somente queria viver.
Naquele momento, qual foi a decisão mais difícil?
Foram muitas decisões e que tinham de ser tomadas a cada dia. Pegar a esquerda ou direita era uma decisão, mas as decisões mais importantes são de como sobreviver. Se alimentar do corpo de amigos. A gente pensa sobre esse tema com a mente da cidade. Se a decisão é justa ou não é justa. A dois ou três caras que eram muito religiosos eu perguntei: 'vocês querem viver ou morrer?'. Você reza, sim, mas se você ficar rezando somente, nada vai acontecer. Uma outra decisão muito difícil foi no dia que começamos a expedição final, pois ali você deixa o grupo para morrer. Agora você sabe que eu sobrevivi, mas não era possível. Não víamos terra. Por onde começar a andar? Sul, Norte, Leste? Deixar os amigos, o grupo, foi muito difícil, pois você se sente confortável com eles. Mas tive de quebrar essa segurança e partir em uma expedição kamikaze. Não há uma escola para aprender a se lidar com o medo. O medo não se vence, se convive com ele. Não é uma opção.
Qual foi o impacto daquela experiência?
Todos somos criaturas de experiência. Você vai crescendo e acumulando experiência. Fui confrontado a uma coisa difícil. Eu não brigo mais, já briguei. Não discuto mais. Gosto sim de fazer coisas e quando encontro algo difícil penso muitas coisas. Antes talvez eu não teria a segurança que tenho agora. Penso que sou o mesmo cara de antes, pois tenho os mesmos medos e tenho muita sorte.
O acontecimento mudou de alguma forma sua concepção sobre a vida?
Eu amo a vida. Em 40 anos eu nunca fiquei chateado. Mas estava nos Estados Unidos quando os aviões bateram no World Trade Center e pensei 'lutei tanto pela vida dos meus amigos'. Conceber pessoas que matam por religião me fez ficar muito chateado. Pensar que há gente que mata por religião e poder é algo que me incomoda. Minha mulher está comigo há 33 anos e me diz 'você nunca fica chateado ou deprimido'. Sou contente a cada dia. O fato de tomar água, por exemplo, depois que você fica dois meses e meio sem beber. Quando se fica enterrado em uma avalanche, sem respirar e sufocado. Quando você respira sente prazer. São coisas muito simples que se deve desfrutar. Também desfruto de carros, boas roupas e restaurantes. Não sou um guru, sou um ser humano. Água, carro, trabalhar, amigos. A vida é muito curta para desperdiçarmos. Você tem de ser positivo.