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Estado de Minas

PUC-Rio abre Caravana da Anistia para relatos de violações ocorridas na ditadura


postado em 17/08/2012 16:50 / atualizado em 17/08/2012 16:56

O auditório abarrotado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) não comportou todos os participantes da 61ª Caravana da Anistia nesta manhã. Criada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a sessão itinerante fez mais um pedido simbólico de desculpas, por parte do Estado, a perseguidos politicamente pela ditadura militar no Brasil (1964-1988).

Por falta de espaço, a maioria assistiu de pé os relatos dos que sobreviveram para contar as violações aos direitos humanos cometidos por agentes do Estado. Muitos viram a sessão do lado de fora, por um telão.

Dentre os anistiados homenageados por ocasião da visita da comissão, três foram assassinados durante o golpe militar. Os irmãos Yuri e Alex Xavier Pereira, militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da Ação Libertadora Nacional (ALN), foram mortos em 1972; Lincoln Bicalho Roque, militante do PCB, foi assassinado com 15 tiros pela polícia em 1973. Outro homenageado, o estudante de direito Fernando Augusto de Santa Cruz, membro da Ação Popular Marxista-Leninista, continua desaparecido desde 1974.

Muito emocionada, Iara Xavier Pereira, irmã de Yuri e Alex, chamou ao palco amigos e ex-militantes que conheceram seus irmãos, pessoas que sobreviveram às torturas. “Nossa família de sangue é muito pequena, mas, hoje, [a família afetiva] é muito maior, que são os companheiros que tivemos na luta”, declarou com voz embargada. “Estou abrindo o espaço que tenho aqui para falar em nome de minha família, para que essa família de amigos deponham sobre eles [meus irmãos]”.

Vitória Grabois, filha do militante de esquerda Maurício Grabois, desaparecido na Guerrilha do Araguaia, foi uma das homenageadas no evento e exigiu a abertura dos arquivos da ditadura militar e que os torturadores sejam responsabilizados e punidos pelo que fizeram. “Sem a abertura dos arquivos, os militares nunca vão falar”, declarou. “Precisamos dessa abertura para que a tortura nunca mais aconteça neste país”.

Outro homenageado, o ex-militante político Cid de Queiroz Benjamin, foi preso e torturado, assim como o irmão, César Benjamin. “Se não remexer o passado fosse melhor para a sociedade, eu defenderia essa ideia”, declarou o jornalista. “Mas, para evitar que os males do passado voltem no futuro, precisamos continuar lembrando as injustiças do passado. Não tenho nenhum prazer em ficar falando das torturas a que eu e meus companheiros fomos submetidos. Mas é preciso remoer o passado para que se criem anticorpos na sociedade contra a tortura”.

Para Cecília Thumin Boal, viúva do teatrólogo Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido e também homenageado pela caravana, qualquer tipo de iniciativa para trazer a verdade à tona e reparar injustiças é válida. “Qualquer coisa que se faça vale à pena. O Brasil está avançando como pode e depende de nós, sociedade, fazer as coisas avançarem mais”.

Também foram homenageados Luiz Carlos Prestes, líder do Partido Comunista Brasileiro (PCB) por mais de 50 anos, e a estilista Zuzu Angel, mãe do militante do MR-8 Stuart Angel, torturado e morto pela repressão. Zuzu também foi morta em um misterioso acidente.

O presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, fundador da Caravana da Anistia, afirmou que esse gesto de reparação serve para reconhecer o direito de resistência dos cidadãos brasileiros contra a opressão. “O Estado faz uma autocrítica em relação ao seu papel e aponta ao seu futuro seu perfil principal de protetor da cidadania e não de repressor. Por outro lado, as caravanas dão a oportunidade para a juventude conhecer essas graves violações e desenvolver uma consciência de repúdio aos crimes de lesa-humanidade”.

Criadas em 2008, as caravanas da Anistia já passaram por diferentes cidades neste ano: Camaçari (BA), São Paulo, Teresina, Porto Alegre (RS), Bauru (SP), Florianópolis e Fortaleza. A próxima caravana será em Curitiba.


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