A associação de moradores do Bairro de Santa Teresa e o movimento "O Bonde que Queremos", no Rio de Janeiro, inauguram hoje placa em homenagem às vítimas do acidente do bonde ocorrido há um ano, em 27 de agosto de 2011. Eles também querem responsabilizar o secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, pelo acidente e vão entregar, hoje, um dossiê ao Ministério Público Estadual pedindo o indiciamento do secretário devido à falta de manutenção no veículo, que perdeu o freio, bateu em um muro e derrubou um poste.
O movimento O Bonde Que Queremos alega que o governo trata com descaso a questão do transporte em Santa Teresa, bem como o próprio bairro. Os moradores relatam que Santa Teresa tem sofrido forte pressão imobiliária, por sua proximidade com o centro e veem nisso o motivo do descaso. Eles alegam que o interesse seria aproveitar os casarões antigos do bairro como restaurantes e hotéis para os grandes eventos, como aponta o reverendo Luiz Caetano, que mora em Santa Teresa.
Morador do bairro há 64 anos e um dos fundadores da Amast, Vicente Sábato, também se queixa do descaso com a segurança do transporte. “Sempre procuraram impedir o bonde. A primeira virada do bonde foi em abril de 1981. A associação já reclamava providência. À época, a diretoria da Amast foi presa, junto com outros moradores e eu, que não estava na associação, mas era advogado dela”, relembra, explicando que foram levados ao Departamento de Ordem Política de Social (Dops) e, ali, interrogados.
Sábato diz ainda que a manutenção das características históricas é a garantia da permanência do bonde, tombado como bem cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “A recuperação é possível, com manutenção.” Segundo ele, a Central, que opera o sistema, recuperou 14 bondes há pouco mais de dez anos.
Os moradores alegam que o sistema funciona, nos moldes históricos, com o bonde aberto, capaz de transportar até 80 pessoas, e discordam do modelo posto em licitação ainda em 2011, baseado em bondes portugueses, de 24 lugares, fechados e capazes de atingir maior velocidade. “O bonde é popular, está fazendo agora 116 anos e ele dá identidade cultural ao nosso bairro. Ele nos faz andar calmos, ter o privilégio de andar distantes do tumulto da cidade. Sem o bonde tudo se perde”, reclama Nilce.
Além da via legal, com o acionamento do Ministério Público, os moradores buscaram a conversa direta com o governo do estado, levando representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) estadual e do Sindicato dos Engenheiros à Secretaria Estadual de Transportes. Mas, de acordo com a presidenta da Amast, Elzieta Mitkiewicz, na ocasião em que eles se reuniram com o governo, as propostas não foram consideradas.
“ é um microônibus sobre trilhos. As pessoas querem o bonde como ele sempre foi. Não tem de inventar e mudar o modelo do bonde, ele virou por falta de manutenção”.
(Com agências)