Dez anos após reencontrar os pais biológicos, Pedrinho vai ter o primeiro filho. Roubado em uma maternidade em Brasília nas primeiras horas de vida, em 21 de janeiro de 1986, Pedro Júnior Rosalino Braule Pinto agora é um típico cidadão adulto de classe média brasiliense.
O caso se tornou famoso no Brasil após vir à tona a história de Vilma Costa Martins, acusada de sequestrar dois bebês, Aparecida Fernanda Ribeiro da Silva e Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho. Ela criou as crianças como filhos.
Pedrinho, agora aos 26 anos, advogado, pós-graduado em direito, está casado desde novembro de 2011. Mora com a mulher, grávida de sete meses, em um apartamento da Asa Norte. Corre na rua, joga futebol com amigos e almoça com parentes aos domingos. Rotina que espera manter ao menos até meados de novembro, quando deve nascer João Pedro, seu rebento. E, por causa da criança, pensa em estabilidade, fazer concurso e virar funcionário público.
Ele ainda tem vínculos com Goiânia, cidade onde passou os primeiros 17 anos de vida. Costuma viajar de carro pelos 200km do trajeto da BR-060, que liga Brasília à capital goiana, para rever os amigos e a família de criação. Visita, inclusive, Vilma Martins Costa, a mulher condenada por raptá-lo e registrá-lo como se fosse filho legítimo dela. Também considerada culpada pelo sequestro e o registro falso de uma recém-nascida em Goiânia, crime ocorrido em 1979, ela ganhou a liberdade condicional em agosto de 2008, após cumprir cinco dos 19 anos das penas inicialmente impostas pela Justiça.
Mas Pedrinho não fala de Vilma com os pais biológicos. Eles também não fazem questão. “Sabemos que ele vai à Goiânia, mas não perguntamos o que vai fazer lá, nem com quem se encontra. Ele fala se quiser. Se esteve ou encontra com ela (Vilma), nunca nos contou, por opção. Criamos o Pedro assim, com muita liberdade”, diz Maria Auxiliadora Braule Pinto, a Lia, 59 anos. Ela e o marido, Jayro Tapajós, 60, agora curtem a tranquilidade da aposentadoria.
Segundo "milagre"
Diferentemente de uma década atrás, os verdadeiros pais de Pedrinho não têm mais a companhia constante dos quatro filhos nem de policiais e jornalistas. Em compensação, ganharam três netas. Todos da filha Cláudia, 31 anos, vindos após o reencontro com o filho levado da maternidade por uma falsa enfermeira, identificada anos depois como Vilma Martins. “Mas, com elas (as netas), não temos a mesma responsabilidade que tínhamos com os filhos”, ressalta Jayro, deixando claro que “na casa dos avós, os netos fazem o que querem”.
Como há 10 anos, Lia se dedica ao artesanato e à família. Já Jayro está aprendendo a conviver com o maior susto da vida, desde o sumiço do filho caçula. Jayro sofreu enfarto, um ano atrás. O sinal de alerta veio no primeiro tempo de uma partida de futebol entre amigos, em um clube do Lago Sul. No entanto, sentindo dores, ele continuou em campo até o fim do jogo, por volta do meio-dia. Foi para casa dirigindo. Somente às 19h, levado por Lia, deu entrada em um hospital. Sobreviveu por pouco. “Foi um segundo milagre em minha vida”, afirma ele. O primeiro foi a descoberta do paradeiro de Pedro.
Relembre o caso
Osvaldo Borges Júnior, na época com 17 anos e conhecido como Pedrinho, foi sequestrado, quando bebê, de um hospital de Brasília. A mãe de criação, Vilma Martins Costa, foi acusada de ser a sequestradora. Ele foi sequestrado no dia 21 de janeiro de 1986, apenas 12 horas após o nascimento e novamente registrado como Osvaldo Júnior, sendo criado em Goiânia por Osvaldo Borges e Vilma Martins da Costa
Vilma, mãe adotiva de Pedrinho, dizia que o bebê havia sido entregue a Osvaldo Borges, marido dela, por um gari, mas as investigações apontaram que a mulher sequestrou duas crianças para tentar agradar os amantes. Os pais biológicos de Pedrinho reconheceram Vilma como a sequestradora.
O caso se tornou público depois que Gabriela Azeredo Borges, na época com 19 anos, neta de Osvaldo Borges e filha de Jorge Borges, primogênito do primeiro casamento de Osvaldo, ligou para o SOS Criança, dias após a morte do avô. Ela disse que viu semelhanças de Pedrinho em uma foto divulgada num site de crianças desaparecidas. Em depoimento à polícia, parentes de Osvaldo Borges afirmam que ele morreu sem saber que Pedrinho não era seu filho e que Vilma simulou uma gravidez na época do sequestro.