Um homem acusado de ter sido o responsável pelo incêndio que, na manhã desta segunda-feira, atingiu a favela do Moinho, na zona leste de São Paulo, foi preso, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Fidelis de Melo Jesus, o homem detido, foi localizado em um hospital da região central da Capital. Ele morava em um dos barracos da Moinho junto com Damião Melo. Os dois, que são usuários de drogas, triam se desentendido e Jesus ateou fogo no barraco onde viviam. Damião Melo morreu no incêndio.
Os dois não eram moradores antigos do local. Duas moradoras do Moinho contaram que no barraco onde Jesus vivia com Melo era antes ocupado por uma família, que deixou o barraco há cerca de três meses, quando então os dois homens passaram a morar ali. Moradora da comunidade há mais de cinco anos, Gislaine dos Santos salvou uma televisão e o aparelho de micro-ondas. Ela diz que saiu para levar seus dois filhos, um de quatro e outro de dois anos de idade, à creche e, na volta, o incêndio já tinha queimado parte da favela.
"Acordei meu marido e saímos correndo só com as roupas do corpo. Ele conseguiu pegar a TV e o micro-ondas, mas foi só isso, todo o resto está queimado. Perdemos um guarda-roupas novo e também a beliche das crianças, que ainda nem pagamos", lamentou. "E ainda temos de ficar de olho no pouco que conseguimos salvar porque é fácil de alguém roubar", disse. "Agora temos de erguer a cabeça e continuar", disse Maria Cristina Santos, moradora do Moinho há 15 anos. Ela trabalha com reciclagem e teve sua casa totalmente incendiada. Casada e mãe de um adolescente de 15 anos, diz não saber o que fazer agora.
Mãe de seis filhos, Bianca, de 25 anos, que preferiu não dar o nome completo, conseguiu salvar somente a cadeira de rodas de uma de suas filhas. Separada, ela mora no Moinho há um mês, por falta de opção. "Ninguém aluga uma casa ou apartamento para quem tem cinco filhos".
A Defesa Civil estima que ao menos 80 barracos tenham sido destruídos e 300 pessoas estejam desabrigadas. O trânsito foi bloqueado nos dois sentidos do Viaduto Orlando Murgel - ligação entre as avenidas Rio Branco e Rudge -, que passará agora por uma inspeção.
Além disso, a circulação foi interrompida nas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM e, de acordo com a SPTrans, 17 linhas de ônibus tiveram itinerário desviado. Todas as ruas do entorno da comunidade foram bloqueadas, segundo a CET, e vias no sentido da alça da Marginal do Tietê para a Ponte da Casa Verde também estão fechadas. O trânsito está concentrado na Avenida Rudge.
Reprise
O incêndio desta segunda-feira na favela do Moinho é o sétimo em comunidades da capital paulista nos últimos 40 dias e o 34º apenas no Estado de São Paulo. O coordenador da Defesa Civil de São Paulo, coronel Jair Paca de Lima, afirma que o tempo seco na cidade, onde não chove há 61 dias, somado à grande quantidade de papelão, madeira na favela, pode ter colaborado para a propagação mais rápida do fogo.
A favela do Moinho ocupa uma área de 30.107 metros quadrados, com quase 375 barracos, segundo dados da Prefeitura de São Paulo. Em dezembro de 2011, a mesma comunidade foi atingida por outro grande incêndio, 368 barracos foram destruídos e cerca de 1,5 mil moradores ficaram desabrigados. A Prefeitura já informou a intenção de transformar a região em um parque e três terrenos estavam em análise para receber as famílias que ocupam a favela.