Jornal Estado de Minas

Com 30% do corpo queimado, Palhaço Pirulito pede ajuda para se recuperar

Com 30% do corpo queimado, o artista do riso teve alta e voltou para a casa simples no Gama, onde ficará 45 dias sem poder trabalhar nem garantir o sustento

ThaĆ­s Paranhos
- Foto: Ronaldo Oliveira/CB/DA pressO Palhaço Pirulito voltou a fazer os moradores do Distrito Federal sorrirem. Desta vez, de alívio. Ele foi recebido em casa, pelos amigos e fãs na tarde dessa segunda0-feira após ter alta do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Na manhã de 9 de setembro, sofreu um grave acidente quando voltava de uma apresentação em Santa Maria, por volta das 11h30. Na entrada do Gama, onde vive, os balões que estavam dentro da Kombi começaram a pegar fogo. Assustado, o palhaço se jogou na rua com o veículo em movimento para tentar escapar, mas as chamas o atingiram nos braços e na cabeça.
Ficou com 30% do corpo queimado. Foi levado, primeiramente, para o Hospital Regional do Gama (HRG) e depois, ao Hran, referência no tratamento de queimaduras. Voltou para casa com os braços e a cabeça enfaixados. Somente olhos, boca e nariz estão livres. Os machucados ainda doem, mas o que mais o incomoda é não poder trabalhar: deve ficar de repouso nos próximos 45 dias e tomar medicamentos corretamente. Sem parentes na cidade, vai precisar da ajuda de amigos.

O homem que arranca sorrisos e gargalhadas das pessoas de todas as idades recebeu nesses dias em que esteve internado toda a alegria que distribuiu durante os 25 anos de trabalho. Assim que soube do acidente, a analista de recursos humanos Vivian Oliveira, 24 anos, moradora do Gama, foi até o hospital. “Tirei uma foto com ele e divulguei para dizer que ele estava tudo bem”, contou. As imagens se espalharam nas redes sociais e logo começaram a surgir milhares de mensagens. O Gama e o DF se mobilizaram em prol da recuperação do palhaço, e Vivian começou a pedir ajuda para o artista.

Esse carinho tornou os dias de Pirulito no hospital mais fáceis. “Minha maior felicidade é saber que o Brasil inteiro estava rezando por mim. Queria agradecer a todos que fizeram essa corrente”, disse. A solidariedade rendeu até um vídeo com homenagens: no último sábado, algumas pessoas se reuniram em frente ao Estádio Bezerrão e gravaram depoimentos.

Preocupação

Os amigos sabem que ele precisa de muito mais. O palhaço mora em um lugar bem simples no Gama. Não tem um colchão confortável para descansar e se recuperar. “Fui até a casa dele na sexta-feira à noite para ver o que faltava”, contou Vivian. O artista vive em um espaço sem geladeira, fogão, televisão e armários. Precisa ainda de mantimentos e de material de limpeza e de higiene, além de recursos para custear os gastos mensais com aluguel, água, luz e alimentação. Pirulito está preocupado. Sem poder trabalhar, não sabe como vai fazer para viver.

Os olhos dele se enchem de lágrimas ao se lembrar do acidente. “Quando chegamos na entrada do Gama, eu ouvi uma explosão. Olhei para trás e vi as chamas. Só deu tempo de abrir a porta e me jogar, sair rolando”, descreveu. O palhaço deu entrada no hospital como José dos Santos Cavalcanti, nome de batismo. Mas, logo, o paciente chamou a atenção dos servidores do Hran. “Os vigias, o pessoal da limpeza, todos vieram me ver. Recebi muitas visitas. Na terça-feira, tinha fila do lado de fora do quarto”, admirou-se. O carinho também chegou de fora. “Recebi ligações de todo o Brasil. Se não fosse o apoio das pessoas, eu não estaria aqui hoje.”

Por onde ele anda, mesmo com o rosto escondido pela faixa, é reconhecido nas ruas. Basta parar um instante para as pessoas irem conversar e desejar boa recuperação.

Na casa do palhaço, não faltaram amigos para recebê-lo. “Qualquer morador o conhece, não importa a idade. Precisamos ajudá-lo”, convocou o policial militar Otávio Manoel de Jesus, 54 anos, morador do Gama. “Vou aproveitar uma reunião entre comerciantes para pedir ajuda, precisamos fazer alguma coisa”, completou.

O comerciante e ajudante de Pirulito, Deymes Silva Antunes, 34 anos, também se mobilizou. Se antes fazia as laranjinhas para vender, agora vai fiscalizar se o amigo está tomando a medicação corretamente. “Vou tomar conta dele. Ele é um símbolo da cidade do Distrito Federal e do nosso time”, disse. A filha de Deymes, Maria Antônia Antunes, 5 anos, correu para dar um abraço no palhaço. “Gosto das brincadeiras e das guloseimas”, disse a menina. Com as manifestações de carinho, Pirulito se emociona. “Vou levando a vida assim sorrindo. Sei que sou respeitado”, concluiu.

- Foto: Antonio Cunha/CB/DA pressPerfil

José dos Santos Cavalcanti, 46 anos, o Pirulito, nasceu em São Rafael (RN) e se mudou para Brasília em 1984. Veio para a capital em busca de um sonho: trabalhar em novelas, mas a vida tomou outro rumo e o levou às apresentações em escolas e praças públicas. A primeira aparição como palhaço foi no Colégio JK, no Gama. Não parou mais. Pirulito está presente em vários eventos no Distrito Federal, vendendo picolé, algodão-doce e estalinho, cantando e divertindo a criançada. Além do DF, já levou seu show para cidades em São Paulo, no Espírito Santo e em Goiás. Torcedor fanático do Gama, não perde uma partida do time que já disputou a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Para ajudar

O Palhaço Pirulito precisa de auxílio. Na casa onde mora sozinho, não existem geladeira, fogão, televisão nem armários. Ele necessita também de mantimentos e material de higiene e limpeza. Contatos: (61) 9903-2053. O telefone do amigo Deymes é (61)9135-4917.