Em entrevista, Cláudio Ribeiro salientou a importância do congresso, tendo em vista que as doenças tropicais negligenciadas acometem pessoas em áreas habitadas por populações pobres e com poucos recursos. “São doenças de países pobres e de gente pobre. Elas trazem poucos recursos para ações de controle, infelizmente, e para pesquisas. Por isso, são referenciadas como doenças negligenciadas”, disse o pesquisador do IOC, que preside a comissão científica do congresso.
Cerca de 40% da população mundial correm o risco de contrair uma doença tropical negligenciada. É o caso da malária, que registra 220 milhões de casos no mundo e mais de 600 mil mortes por ano, segundo o especialista. O quadro mundial apresenta uma estimativa de 2,5 milhões de pessoas com esquistossomose e cerca do mesmo número com doença de Chagas. Grande parte das pessoas infectadas está no Hemisfério Sul.
Ribeiro admitiu que esse cenário deveria preocupar as autoridades sanitárias. “E essa preocupação tem que ser traduzida em priorização de investimento para ações de controle”. Isso envolve tratamento e diagnóstico. Se tratadas adequadamente, doenças como a hanseníase e a doença de Chagas, que levam em média 20 anos e 30 anos para aparecerem os primeiros sintomas, têm chance de cura muito alta, informou. É preciso, segundo ele, que haja recursos para o diagnóstico, pois os casos de malária tratados nas primeiras 48 horas dificilmente vão evoluir para uma forma complicada.
Para o pesquisador, é necessário também incluir os jovens nesse processo, de modo a estimulá-los a estudar as doenças tropicais negligenciadas. Embora o Brasil venha investindo de forma crescente em pesquisa – atualmente, são 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) investidos em ciência e tecnologia, contra 1,54% da China e 2,8% dos Estados Unidos –, o país ocupa a 13ª posição do ranking mundial em artigos científicos publicados, apesar de aparecer como a 6ª potência econômica mundial.
“Você vê que há, de fato, uma decisão política de investir em ciência e tecnologia, e eu acho que é o que pode garantir um país moderno”, disse. “Acho que podia ir melhor. Mas a gente está indo bem”, completou