“O amor tudo suporta”. A frase, espalhada por campanhas disseminadas nas redes sociais, representa bem a luta do engenheiro civil Samuel Luna, 37. Depois de buscar até mesmo a presidenta Dilma Rousseff e de processar o estado na tentativa de custear um dispendioso exame para a esposa Gecélia, 38, ele finalmente passa a ver os caminhos se abrirem à sua frente. A psicóloga, mesmo depois de vencer um câncer, passou a sofrer de duas síndromes raras, uma delas não identificada, que afetou sua visão, fala e coordenação motora. O tratamento depende de um diagnóstico, possível após a realização de um “painel de anticorpos paraneoplásicos”, no valor de R$ 14 mil, não cobertos pelas redes públicas ou privadas de saúde. Pela internet, a família recebeu doações de todo o país e até de fora dele e vai poder custear o exame antes mesmo da resposta do processo judicial.
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Em busca de tratamento para a esposa, recifense procura Dilma e briga na JustiçaGoverno quer reduzir doenças evitáveis que ainda causam mortes na população indígenaPortadores de rara doença incapacitante lutam contra INSS para obter benefíciosMorre no Recife psicóloga que brigava contra o Estado por exame raroOs laboratórios responsáveis pela coleta e análise de sangue e líquor, substância que envolve o sistema nervoso central, já estão agendando os exames para o mês de outubro. O “painel de anticorpos paraneoplásicos” serve para estudar a ação desses agentes no corpo da paciente. A presença e quantidade de vinte diferentes tipos dessas defesas específicas podem identificar a doença, considerada raríssima, definir rumos do tratamento e ainda confirmar se há chances de reversão do quadro. Após a coleta, o prazo para os resultados é de 30 dias.
De acordo com a coordenadora jurídica da Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps), Karla Guerra, afirma que o processo contra o estado já foi aberto no Juizado Especial da Fazenda Pública, no Recife, e que o custeio por parte da sociedade não muda o teor jurídico da ação. “Ele conseguiu por esforço próprio e boa vontade de terceiros, quando a responsabilidade é do estado. Isso não muda. Além disso, estamos ingressando com pedido de danos morais pelos transtornos causados”, explica. A resposta do pedido de liminar da ação deve sair até a próxima segunda-feira.
O alívio da primeira barreira vencida é o suficiente para que Samuel comece a fazer planos. A esperança é que a persistência em desafiar as adversidades seja recompensada com dias melhores que estejam por vir. “Espero ouvir de novo a voz dela, que tanto sinto falta. Ela gostava tanto de viajar, por isso, já tenho até os dias programados para que a gente possa comemorar. Voltar a viver”, conta. Separados pela enfermidade, o casal, que completou 18 anos de relacionamento, se vê mais junto que nunca. “Enquanto alguns acham que a dificuldade faz a atração ir embora, eu prefiro acreditar que meu amor, até o momento, só fez crescer”, conclui.