Jornal Estado de Minas

Após buscar Dilma e processar estado, homem consegue exame de doença rara da esposa

Mesmo com aval de presidenta, Samuel teve que brigar na Justiça por exame da psicóloga Gecélia. Internautas levantaram fundos antes de resposta judicial

Diário de Pernambuco
- Foto: Reprodução Diário de Pernambuco
“O amor tudo suporta”. A frase, espalhada por campanhas disseminadas nas redes sociais, representa bem a luta do engenheiro civil Samuel Luna, 37. Depois de buscar até mesmo a presidenta Dilma Rousseff e de processar o estado na tentativa de custear um dispendioso exame para a esposa Gecélia, 38, ele finalmente passa a ver os caminhos se abrirem à sua frente. A psicóloga, mesmo depois de vencer um câncer, passou a sofrer de duas síndromes raras, uma delas não identificada, que afetou sua visão, fala e coordenação motora. O tratamento depende de um diagnóstico, possível após a realização de um “painel de anticorpos paraneoplásicos”, no valor de R$ 14 mil, não cobertos pelas redes públicas ou privadas de saúde. Pela internet, a família recebeu doações de todo o país e até de fora dele e vai poder custear o exame antes mesmo da resposta do processo judicial.
A história foi contada pelo Diario de Pernambuco, na semana passada. Samuel chegou a enfrentar uma multidão durante um comício de Dilma Rousseff, no Recife, para entregá-la, por escrito, um apelo para que o exame fosse realizado, mas nem o despacho presidencial foi suficiente para que a Secretaria Estadual de Saúde custeasse o exame, não previsto na tabela do Sistema Único de Saúde. A vaquinha online, lançada há meses pela família de Casa Amarela, no Recife, recebeu mais de R$ 4 mil em dois dias. No terceiro, a confirmação de uma doação anônima que custearia o restante das despesas. “A ajuda veio de todos os lados. Pessoas de vários estados quiseram contribuir com todo tipo de valor. Tinha doações de R$ 5 e de R$ 500, até mesmo de cidades como São Francisco, nos EUA”, disse Samuel. Procurado pelo Diario, o empresário responsável pelo complemento do exame não quis comentar a atitude. “Aprendi com o Senhor Jesus: Tu, porém, ao dares a esmola (oferta), ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita”, sentenciou, citando a passagem bíblica do livro de Mateus.

Os laboratórios responsáveis pela coleta e análise de sangue e líquor, substância que envolve o sistema nervoso central, já estão agendando os exames para o mês de outubro. O “painel de anticorpos paraneoplásicos” serve para estudar a ação desses agentes no corpo da paciente. A presença e quantidade de vinte diferentes tipos dessas defesas específicas podem identificar a doença, considerada raríssima, definir rumos do tratamento e ainda confirmar se há chances de reversão do quadro. Após a coleta, o prazo para os resultados é de 30 dias.

De acordo com a coordenadora jurídica da Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde (Aduseps), Karla Guerra, afirma que o processo contra o estado já foi aberto no Juizado Especial da Fazenda Pública, no Recife, e que o custeio por parte da sociedade não muda o teor jurídico da ação. “Ele conseguiu por esforço próprio e boa vontade de terceiros, quando a responsabilidade é do estado. Isso não muda. Além disso, estamos ingressando com pedido de danos morais pelos transtornos causados”, explica. A resposta do pedido de liminar da ação deve sair até a próxima segunda-feira.

O alívio da primeira barreira vencida é o suficiente para que Samuel comece a fazer planos. A esperança é que a persistência em desafiar as adversidades seja recompensada com dias melhores que estejam por vir. “Espero ouvir de novo a voz dela, que tanto sinto falta. Ela gostava tanto de viajar, por isso, já tenho até os dias programados para que a gente possa comemorar. Voltar a viver”, conta. Separados pela enfermidade, o casal, que completou 18 anos de relacionamento, se vê mais junto que nunca. “Enquanto alguns acham que a dificuldade faz a atração ir embora, eu prefiro acreditar que meu amor, até o momento, só fez crescer”, conclui.