Uma estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP) foi mantida refém por 40 minutos dentro da Cidade Universitária, na zona oeste da capital, durante um sequestro relâmpago, na noite de terça-feira. A mulher de 52 anos conta que, nesse tempo, não cruzou com viaturas da PM nem da Guarda Universitária.
A aluna, que também é médica, foi pega por três homens ao entrar em seu EcoSport, às 22h20. Um deles impediu que ela fechasse a porta do carro e outro tapou a boca dela. Bem vestidos, os assaltantes foram com ela até outro local do câmpus, a tiraram do carro e a colocaram em outro veículo. De lá, seguiram para um mercado da região para fazer compras com cartões bancários da vítima. Ela só foi libertada duas horas depois, perto de Osasco, na Grande São Paulo.
“Eles tinham linguagem intelectual, um disse que leu Shakespeare e Verissimo”, observou a vítima, que tinha acabado de assistir a aula de poesia francesa. Ela disse que só vê seguranças no câmpus na hora da entrada das aulas, por volta das 19h. “Na saída a gente não vê mais ninguém”, reclamou.
Insegurança
No dia seguinte ao crime, a reportagem esteve no câmpus entre 20h30 e 22h e não encontrou ronda de policiais miliares. Apenas um carro da Guarda foi visto em uma rotatória, mas logo deixou o local. Alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde aconteceu o assalto, também confirmaram que diminuiu a frequência de policiais na região e nos bolsões de estacionamento. “Aparecem de vez em quando e durante o dia”, afirmou uma estudante que preferiu se identificar apenas como Beatriz, de 23 anos.
Segundo a jovem, pegar ônibus no ponto do câmpus virou um problema. “Tenho medo, aqui é muito escuro, preferimos andar em grupo para não acontecer nada.” Um colega, de 25 anos, disse que a Guarda chega a fazer patrulhamento a pé, mas seria insuficiente. O delegado Celso Garcia, titular do 93.º DP (Jaguaré), disse que a USP não tem registrado muitos crimes. “Há casos isolados.” Recentemente, o policial apreendeu um adolescente que estaria assaltando alunos.
Procurada por três vezes, a PM não comentou o caso. O capitão Rodrigo Cabral, da Assessoria de Imprensa, afirmou que quem poderia comentar era o coronel Luiz Castro, responsável pela Guarda Universitária. A USP disse que Guarda não tem poder de polícia e indicou a PM para comentar os crimes.
A USP informou que entre as medidas de segurança a serem adotadas está a instalação de catracas, mas a nova medida não tem previsão para ser colocada em prática. A vítima de sequestro relâmpago registrou o caso no 27.º DP (Campo Belo), pois mora nas imediações. Na quinta-feira (04), ela esteve no 93.º DP para prestar depoimento. Ela afirma que também reclamaria com a Reitoria.