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Estado de Minas

Cientista brasileira vence prêmio da Unesco


postado em 22/10/2012 20:17

A brasileira Marcia Barbosa foi anunciada como uma das cinco escolhidas na 15.ª edição dos Prêmios L'Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência, que distribui US$ 100 mil para cada pesquisadora, em reconhecimento por seus estudos. Marcia, que esteve nesta segunda-feira no Rio para a reunião anual da União Internacional de Física Pura e Aplicada (Iupap, na sigla em inglês), da qual é vice-presidente, vê a premiação como uma oportunidade de mostrar que "cientistas são normais".

"É uma grande chance de mostrar que mulheres podem se dedicar à ciência e ter uma vida normal, ter família e ter charme. É uma carreira muito divertida. Nós não somos louquinhas. O preconceito ainda é muito forte", afirmou a cientista, diretora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela investirá parte do prêmio no laboratório de Fluidos Complexos e em viagens a trabalho para as quais costuma ser convidada.

Para concorrer ao prêmio é preciso ser indicado por outros cientistas. O nome de Marcia foi apontado pelos norte-americanos Anneke Senger e Michael Fisher, e o brasileiro Constantino Tsallis pela descoberta de uma anomalia na água, que pode explicar desde como ocorrem terremotos ao surgimento de uma doença autoimune.

"Anomalia é tudo o que não é comum. Como a água é muito abundante, a gente não presta atenção de que isso é incomum. A gente não vê ferro líquido, a gente não vê nitrogênio líquido, não tem como comparar. Mas a água tem mais de 60 anomalias. A gente é feito de água, tudo é feito de água. As anomalias na água impactam a nossa vida muito fortemente", explica Marcia.

Ela se dedicou à anomalia da difusão. A cientista faz a comparação com o trânsito: quando aumenta o número de carros nas ruas, o tráfego fica lento. Na água ocorre o oposto. "Quando a temperatura está razoavelmente alta e começa a comprimir a água, ou seja, o número de partículas aumenta, essas partículas andam mais depressa. Isso é pouco usual. A gente descobriu que a água se move mais rápido e a gente conseguiu ver o mecanismo na simulação em computador", explica.

Esse mecanismo ocorre quando a água interage. Se essa interação ocorre com uma proteína, por exemplo, pode afetar a proteína e desencadear uma doença autoimune. "Antes os pesquisadores só olhavam a proteína. Mas o comportamento anômalo da água explica os sistemas biológicos."

Marcia lembra que a crosta terrestre também é composta de água e a alteração da temperatura pode provocar tanto aumento quanto diminuição de volume. "Isso pode ser significativo quando a gente vai olhar essas perfurações de petróleo. A maior parte das anomalias acontece quando a água é retirada sob pressão negativa, ou quando é injetada, sob forte pressão. Entender como a água se comporta é fundamental para evitar que se faça besteira."

Filha de um militar eletricista, Marcia passou a infância consertando objetos com o pai. No ensino médio, no Colégio Estadual Marechal Rondon, em Canoas (RS), tornou-se responsável pelo laboratório da escola. Descobriu a vocação para a ciência e contrariou os planos da família, que sonhava com uma médica ou engenheira. Quando perguntada por que nunca aceitou os inúmeros convites para atuar fora do País, responde: "Sempre estudei em escola pública. Esse povo pagou toda a minha educação. Não seria correto da minha parte, agora que estou podendo produzir, ir embora."

Além de Marcia, foram premiadas na categoria Ciências Físicas Francisca Nneka Okeke, da Universidade da Nigéria (Nigéria); Pratibha Gai, da Universidade de York (Reino Unido); Reiko Kuroda, da Universidade de Ciências de Tóquio (Japão); e Deborah Jin, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia e Universidade do Colorado (EUA).


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