(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Após ter crianças tiradas de casa para adoção na Bahia, mãe dá depoimento emocionante

A decisão do juiz de tirar as crianças de casa contrariou ao menos dez aspectos das leis que protegem os direitos das crianças e adolescentes


postado em 31/10/2012 07:33 / atualizado em 31/10/2012 08:01

"Saí, e quando cheguei em casa, minha filha não estava mais. Comecei a chorar. Fui ao conselho tutelar e ninguém me informava nada" Silvânia Mota da Silva, lavradora (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr Brasilia )

Brasília
– Muito emocionada, a lavradora Silvânia Mota da Silva, mãe de cinco crianças levadas irregularmente para adoção no município baiano de Monte Santo, disse ontem, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, que só foi informada da perda da guarda dos filhos e da entrega deles a outras famílias quando representantes do conselho tutelar tiraram dela as crianças. O juiz substituto da Vara Criminal da Comarca de Monte Santo, Luiz Roberto Cappio Guedes Pereira, informou que anunciará, até o início de dezembro, sua decisão sobre o caso . De acordo com o juiz, há irregularidades no processo, mas antes de decidir é preciso ouvir todas as partes, inclusive as crianças.

Uma advogada do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente da Bahia (Cedeca-BA), Isabela da Costa Pinto Oliveira, acompanhou Silvânia na CPI. Silvânia contou aos deputados que andava pelas ruas quando representantes do Conselho Tutelar de Monte Santo a informaram da perda da guarda dos cinco filhos. “Eu estava na rua e chegaram umas pessoas com um papel, dizendo que eu estava perdendo a guarda dos cinco meninos. Eles me pararam na rua e mandaram descer para o fórum. Aí, um casal chegou com uma carta e com a minha filha nos braços. Eu e meu pai ficamos do lado de fora – da sala do fórum –, acompanhados por um policial, para não entrar”, disse a lavradora, chorando.

“Saí, e quando cheguei em casa, minha filha não estava mais. Comecei a chorar. Depois procurei a delegacia para fazer um atestado de pobreza. Fui ao conselho tutelar e ninguém me informava nada. Fui, falei com a promotora e ela disse que eu precisava de um advogado para ter informação sobre meus filhos”, acrescentou Silvânia. O filho mais velho, que na época tinha 7 anos, chegou a fugir da casa do pai para não ser levado por representantes do estado, lembrou a lavradora.

“No dia 1º de junho – de 2010 –, eu estava em casa e, quando abri a porta, chegaram carros do conselho tutelar. Eles entraram na minha casa e informaram que iam buscar meus filhos porque o juiz tinha autorizado a guarda provisória. Foram à casa do pai deles. Meu filho fugiu e chegou em casa correndo, pedindo para que eu o escondesse.”

Para a advogada Isabela da Costa Oliveira, a Rede de Proteção da Criança e do Adolescente de Monte Santo cometeu falhas em série: apesar de tudo indicar que o processo de adoção tinha ocorrido de maneira ilegal, a denúncia do Cedeca não foi acatada pelo Ministério Público nem pela Justiça da Bahia. “O mínimo que o Estado brasileiro tem de fazer é providenciar o retorno dessas crianças”, disse Isabela.

A advogada ressaltou que é preciso pressionar para que as cinco crianças voltem para a família, de forma saudável. Na opinião de Isabela, se não fosse a articulação dos movimentos sociais e a divulgação do caso, tudo poderia cair no esquecimento. “Sabemos que no Estatuto da Criança e do Adolescente existe o princípio do melhor interesse da criança, mas esse princípio não permite que o Estado ignore a cidadania dos pais. A cidadania desses pais foi espezinhada”, argumentou Isabela.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)