Uma megaoperação conjunta do Ministério Público, Polícia Federal e Militar no Rio prendeu nesta terça-feira 61 policiais militares acusados de extorsão, sequestro, tortura, homicídios e associação com o tráfico. Eles cobravam propina da principal facção criminosa do Estado, o Comando Vermelho, e movimentavam em média R$ 150 mil por mês. A operação causou o afastamento do tenente-coronel Claudio de Lucas Lima, comandante do 15.º Batalhão de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde os acusados atuavam. O grupo foi flagrado negociando vendas de armas e drogas para os traficantes. As interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça, indicam que o grupo pretendia vender fuzis por R$ 45 mil e um lote de 50 pistolas provenientes do Mato Grosso do Sul. As gravações também mencionam o transporte de meia tonelada de maconha para o Rio e o depósito de propinas em valores que vão de R$ 1.400 a R$ 500 mil. Em alguns casos, as propinas eram entregues nos Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPO) que funcionam em favelas. Outras 11 pessoas, entre elas um juiz aposentado, também foram presas acusadas de intermediar venda de drogas e armas no Rio. Quatro policiais e oito civis ainda estão foragidos. Os detidos foram levados para o presídio de Bangu e os policiais devem ser expulsos em até 30 dias, segundo a PM. Nenhum oficial foi preso, apesar de serem citados por codinomes nas escutas telefônicas. Para a promotoria, não há elementos para indiciamento. "Pela quantidade de policiais envolvidos, não estava ocorrendo fiscalização para que não ocorresse esse fato. Se ele não procurou saber, errou", afirmou o comandante da PM, Erir Ribeiro, para justificar o afastamento do comandante do batalhão. A operação, que reuniu mais de mil agentes de segurança, foi considerada a maior já feita no Estado. A investigação teve início em setembro de 2011, e envolveu a Polícia Federal, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público e a Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança do Rio. O alvo foi a favela "Vai quem quer", em Duque de Caxias, mas outras 12 comunidades também foram monitoradas no período. Foram cumpridos nesta terça-feira 112 mandados de busca e apreensão nas comunidades, na casa dos denunciados e nos batalhões. Para o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, a operação representa um "marco" na história da polícia fluminense. "Não há instituição pública que tenha legitimidade junto à sociedade sem que seja capaz de cortar a própria carne." Os PMs também são acusados de praticar sequestros, extorsão, tortura e abuso de poder. De acordo com os promotores, quando o pagamento de propina atrasava, os policiais sequestravam familiares como forma de pressão. Também apreendiam veículos e bens para chantagear os traficantes. Um deles possuía mais de 40 homicídios registrados como "autos de resistência". Eles serão indiciados ainda por corrupção ativa e enriquecimento ilícito.