Brasília – Quase 30% dos internos em manicômios judiciais do Brasil cometeram crimes contra o patrimônio. A maior parte, 41%, foi detida porque praticou homicídio ou tentativa de matar. Em metade dos casos, a vítima foi um parente ou pessoa da rede doméstica, o que contribui para o distanciamento dos familiares. Para piorar, o perfil das 3.989 pessoas enclausuradas para tratamento psiquiátrico por determinação judicial no Brasil é de grande vulnerabilidade social. São negros, solteiros, com baixa ou nenhuma escolaridade, tímida inserção no mundo do trabalho e vínculos frágeis com a família.
Há 23 hospitais de custódia e tratamento no Brasil e três alas psiquiátricas dentro de presídios comuns. Um dos sete estados que não contam com o serviço é Goiás. Lá funciona o Programa de Atenção ao Louco Infrator (Paili), inspirado em iniciativa semelhante feita em Minas Gerais, com o intuito de inserir os inimputáveis (isentos de pena) por doença ou deficiência mental em serviços assistenciais de saúde, e não em instituições de custódia. Tudo em conformidade com os princípios da Lei n° 10.216, de 2001, considerada um marco da reforma psiquiátrica e do tratamento humanizado para a pessoa em sofrimento mental.
Os serviços, entretanto, não surgem no mesmo ritmo das necessidades.
Nas alas abafadas do estabelecimento em Salvador, onde estão abrigadas cerca de 150 pessoas, entre homens e mulheres, predomina o clima de cadeia.
Na hora das refeições, os internos disputam espaço com pombos no refeitório. A todo momento as aves defecam nas superfícies de concreto que servem de mesa. Há penas grudadas na tela que separa os internos dos cozinheiros que servem os pratos, instalada em cima das cubas onde fica a comida. “É urgente uma melhoria nessa estrutura”, cobra Guimarães.
Segundo ele, o maior problema está no organograma dos estabelecimentos.