Brasília – Por pior que seja o crime cometido, ninguém pode ficar preso mais de 30 anos no Brasil. O limite previsto no Código Penal e confirmado por jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), porém, não se aplica a uma população até então invisível: os louco infratores. Enquanto a lei determina que façam tratamento psiquiátrico compulsório em hospitais de custódia até se restabelecerem, em vez de ir para a cadeia, a realidade se encarrega de condená-los a uma pena perpétua. Dentro das unidades conhecidas popularmente como manicômios judiciários espalhadas pelo país, a pergunta não é “quando”, mas sim “se” chegará o dia de ganhar a liberdade.
Graves violações aos direitos mais fundamentais, como a liberdade, foram trazidas à tona pela primeira pesquisa nacional da população que cumpre medida de segurança no país – tratamento imposto a doentes mentais que cometeram crimes sem compreender o caráter ilícito do ato. Para traduzir os números levantados no estudo financiado pelo Ministério da Justiça, o Estado de Minas visitou hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico no Rio de Janeiro, em Salvador e em Barbacena (MG), além do Distrito Federal. E mostra, a partir de hoje, a dura realidade dos 3.989 homens e mulheres dentro desse tipo de instituição no Brasil.
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Internos de manicômios judiciais do Brasil são vulneráveis e têm pouco apoio das famíliasDoentes mentais amargam espera para deixar manicômios judiciaisLoucos infratores apresentam índice baixo de reincidênciaEsquizofrenia atinge 42% dos internos em manicômios judiciaisHomem passa mais de 50 anos por furtar alimentos do vizinho no RioPresos em manicômio judiciário prestes a ver a luz no fim do túnelLonge do teor pejorativo aparente, a definição representa apenas o que se tornou o homem acometido por uma esquizofrenia residual aliada a déficit de atenção e de inteligência depois de, em momento de surto, ter matado um desconhecido na rua e sido encaminhado ao estabelecimento sob a custódia do Estado. É impossível saber a idade de Reginaldo, sem documentos e com a fala já debilitada. É como se o ex-morador de rua, confinado há mais de três décadas, simplesmente não existisse. “Há casos difíceis aqui, pois não temos para onde mandá-los, por mais que tenham laudo indicando a desinternação.
Reginaldo faz parte das 18 pessoas encontradas pela pesquisa com mais de 30 anos dentro de instituições psiquiátricas judiciárias pelo país. “Um único indivíduo em situação de abandono perpétuo já é motivo suficiente para nos causar inquietação, mas o censo mostra que 21% de toda a população internada está há mais tempo do que se fossem apenados. Muitos com mais de 20 anos lá dentro, porque roubaram uma bicicleta ou uma sirene da polícia”, afirma a antropóloga Débora Diniz, que coordenou a pesquisa.
Doentes em presídios comuns
Em sete estados não há estabelecimentos para doentes que cometeram crimes, e eles ficam em delegacias e presídios, sem tratamento. Há dificuldades mesmo onde o sistema existe, como em Minas Gerais. No estado, cerca de 600 pessoas com distúrbios mentais estão em penitenciárias, diz João Bosco de Abreu, diretor-geral do Hospital Psiquiátrico Judiciário de Barbacena. .