Barbacena - Um homem de aproximadamente 60 anos, pele escura e rugas profundas no rosto está parado próximo ao portão de saída do Hospital Psiquiátrico Judiciário de Barbacena, na Região Central de Minas. Ao seu lado, uma jovem. O guarda digita alguns dados no computador e os dois partem para um passeio pela cidade. O retorno é marcado para um par de horas depois. O uniforme da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi) do Estado pode até chamar a atenção de quem passa pelo detento nas ruas de Barbacena, mas o impacto seria ainda maior se conhecessem a história do prisioneiro. O homem é Raimundo Carvalho dos Santos, enviado em 1995 ao hospital judiciário depois de assassinar o lavrador Jaci Félix da Costa, de 47 anos, na zona rural de Serra Azul de Minas, no Vale do Jequitinhonha, destrinchar o corpo da vítima e o distribuir em dois balaios. Durante três dias, retirou partes do cadáver e as cozinhou no feijão, até ser descoberto e preso.
Depois de aproximadamente 15 anos no hospital psiquiátrico de Barbacena, Raimundo participa agora de um programa conhecido por Desinternação Progressiva. Ao lado de uma voluntária, o detento passou a sair às ruas como preparação para a liberdade.
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Na ala feminina, sobressai o lamento constante principalmente de prisioneiras mães, que pedem aos seguranças para verem os filhos. As vozes são arrastadas e chorosas. Uma detenta de 22 anos, enviada ao hospital por ter matado a dentadas o filho de três anos, pede rotineiramente para ir embora porque precisa cuidar da mãe. “O que verificamos é que não há um motivo claro para os crimes. Muitas vezes dizem que uma voz mandou que agissem assim”, comenta Badaró.
Suicídios
Todos os presos vivem em estado constante de letargia provocada pelo uso de medicamentos. Ainda assim, a unidade já chegou a registrar dez tentativas de suicídio em um mês. Hoje, pelo menos uma ocorrência de tentativa de autoextermínio é registrada a cada 30 dias, geralmente por enforcamento.
De forma geral, o prédio que abriga o hospital está em condições razoáveis de uso. As paredes das solitárias, no entanto, estão descascadas. Os pátios para banho de sol são estreitos. Segundo o diretor administrativo do hospital, Paulo César Pereira, a unidade não tem autonomia orçamentária. Recursos para reformas, pequenos serviços e compras dependem de repasses da Secretaria de Estado de Defesa Social.
Além de abrigar detentos com problemas mentais, o hospital realiza os exames que determinam o nível de lucidez de quem praticou o crime na hora do delito, porém apenas em mulheres. Os homens são atendidos em uma unidade em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Há ainda teste para diagnóstico de dependência química e tratamento psiquiátrico temporário.
À medida que registram avanço no tratamento, os detentos podem participar de projetos desenvolvidos pelo hospital, como cultivo de horta e frequentar uma sala de aula montada dentro da unidade para educação de jovens e adultos. “Acham que o louco infrator não tem condições de assimilar conhecimento, mas isso não é verdade”, garante o diretor-geral do hospital, João Bosco de Abreu.
Apesar de toda a boa vontade, o serviço prestado pela unidade não chega a todos os detentos que precisam de tratamento psiquiátrico em Minas Gerais.
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