A chuva que chegou em parte da Bahia, um dos estados que mais sofreu com a seca deste ano, a mais intensa das últimas quatro décadas no Semiárido nordestino, durou menos do que os produtores da região esperavam. Segundo João Martins, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), os baianos ainda estão vivendo o “pico da seca” no norte e centro do estado.
“Melhorou bastante. Saimos da situação altamente crítica, mas se continuar o sol que está e a previsão se confirmar, dificilmente vai chover nas próximas semanas e vamos voltar para UTI ”, disse, ao comparar a situação do estado com a saúde de um paciente. A Bahia se diferencia de grande parte do Semiárido por ter, normalmente, chuva mais cedo. No sudoeste, oeste e extremo sul do estado, os agricultores tiveram trégua com a chuva, que ainda se mantém e contribuiu para recuperar os níveis de reservatórios de água que abastecem as grandes cidades. Mas, a estiagem ainda ameaça fruticultores e pecuaristas no centro e norte baianos.
“A caprinocultura que está toda nessa região sofreu muito. A redução de leite chegou a mais de 80%. Se não fosse a oferta do extremo sul, estaríamos com problema de abastecimento interno”, calculou Martins.
Leia Mais
Campanha arrecada 20 toneladas de alimentos para as vítimas da seca em PEGoverno libera mais R$ 400 milhões para municípios afetados pela secaCâmara aprova MP que destina R$ 676 milhões para atender atingidos pela secaGoverno reforça auxílio a produtores rurais prejudicados pela secaNo Rio Grande do Norte, a produção de milho e feijão deve ficar 90% abaixo do volume médio anual, segundo estimativas do governo estadual. Os produtores não falam em perdas, mas em frustração de safra.
Os efeitos da estiagem sobre a cajucultura é uma das maiores preocupações das autoridades locais. Além de responder pela ocupação de cerca de 150 mil trabalhadores durante o período de colheita da castanha, o estado concentra empresas especializadas no beneficiamento do produto para o mercado interno e para exportação. Até agora, a estimativa é que a produção fique 70% abaixo da média de 50 mil toneladas de castanha em anos normais. “Temos grandes beneficiadores, grupos de empresas que beneficiam mais de 20 mil toneladas por ano. Só não paramos porque estamos importando a castanha da África”, explicou Holanda. Segundo ele, desde 2010 o estado já importou mais de 40 mil toneladas do produto.
Atualmente, 1,3 mil municípios do nordeste e do norte de Minas Gerais estão em situação de emergência reconhecida pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. O governo estima que 10,3 milhões de pessoas ainda são prejudicadas pela seca, que deverá persistir na maior parte da região.
“Há 75% de chance de ser entre média e abaixo ”, disse Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Nobre considera a situação alarmante e defende a manutenção dos programas estruturais e emergenciais do governo para o Semiárido, como o abastecimento de água por carros-pipa e o repasse de recursos para os estados. “Os lugares que sofrerem déficit hídrico pronunciado por dois anos vão ficando cada vez mais vulneráveis. O que não se projeta é um ano daqueles invernos bons, que reabastecem todos os açudes pequenos, médios e grandes”, acrescentou o especialista..