Jornal Estado de Minas

Testemunhas relatam momentos de terror na boate em Santa Maria

Pedro Rocha Franco
Incêndio, fumaça, confusão, sufoco, gritos, desespero e morte em poucos minutos. Sobreviventes testemunharam momentos de horror na casa noturna Kiss, em Santa Maria. Sem saber ao certo o que acontecia, eles se viram em meio a uma correria generalizada, até que os primeiros gritos de “fogo, fogo” intensificaram o pânico. Mas para muitos era tarde demais. Em segundos, o fogo se alastrou e a fumaça tóxica tomou conta de todo o espaço da boate, matando por asfixia.
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“Quando soltaram o primeiro (grito de) ‘fogo’, saí de perto do palco. Cheguei perto dos banheiros e só consegui escapar porque me puxaram. Fui engatinhando até a saída, com pessoas passando por cima”, relatou a universitária Shelen Rossi, de 19 anos, que, apesar de ter tido alta do hospital, permanecia com irritação na garganta e nos olhos.

Não bastasse o pânico, os visitantes enfrentaram uma série de obstáculos que dificultaram a saída. Primeiro, relatos apontam que os seguranças travaram a porta para evitar que as pessoas saíssem sem pagar. Outro ponto crítico é que os banheiros foram confundidos com a saída. Neles foram encontrados corpos empilhados. Para piorar, quem conseguia se aproximar da porta tinha pela frente uma fila de desesperados que eram barrados por grades metálicas usadas para formar filas do lado de fora. Quando os objetos foram derrubados, dezenas de pessoas caíram e acabaram pisoteadas.

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Os únicos que conseguiram escapar do incêndio com mais rapidez foram os ocupantes da área VIP, que ficava perto da saída da boate. Muitos saíram só com as roupas íntimas para evitar o fogo. “Algumas pessoas tentaram voltar para pegar mais gente lá dentro, mas tinha muita fumaça e não dava para enxergar mais ninguém. A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente saía só de calcinha e cueca”, disse o sobrevivente Murilo de Toledo Tiecher, de 26 anos.

Por conhecer bem a casa, onde trabalha há seis meses, o DJ Bolinha, nome de trabalho de Lucas Cauduro, logo se deslocou para a saída, mas mesmo assim foi pisoteado. Ele estava perto do vocalista da banda Gurizada Fandangueira e viu o momento em que o incêndio começou e a tentativa desesperada do próprio vocalista de apagar as chamas com um extintor. “São cenas que a gente não vai esquecer. Foi muito rápido. Em cerca de 20 segundos surgiu uma fumaça preta e deixou uma escuridão total. Eu respirei um pouco e fiquei tonto. Tentei sair e só consegui porque conhecia a casa”, conta ele.

Depoimentos

Ezequiel Real
professor de educação física


“Era um mar de gente atirada. Saí pela lateral, empurrando e pisando em muita gente. Não ouvi alarme soando, só gritos; não vi luz de saída, só fumaça. Quando saí, me passaram pela cabeça as pessoas que passei por cima e voltei para retirá-las, pois não aguentei escutar berros, ver policiais e bombeiros sem dar conta. Tinha muita gente empilhada.”

Jonathas Castilhos
um dos primeiros a deixar a boate


“Dei sorte, estava perto da saída quando vi que começou o incêndio. Mesmo assim, os seguranças trancaram porque queriam as comandas. Eles abriram, mas ficou mais ou menos um minuto e meio trancado.”

Lucas Culau
estudante do Centro Universitário Franciscano (Santa Maria)


“Quando a banda Gurizada Fandangueira começou a tocar, utilizou um sinalizador apontado para cima e na metade da música começou a pegar fogo no teto.”

Kellen Rebello
21 anos, estudante de farmácia da UFSC, de férias em Santa Maria


“Vimos a fumaça branca na casa, mas em pouquíssimo tempo começou o pior. Logo vi os corpos no chão, mas eu acreditava que aquelas pessoas ainda poderiam estar vivas.”

Fernanda Freire Gomes Bona
23 anos, fotógrafa oficial da boate


“Vi umas faíscas, mas achei que eram apenas os foguinhos da luva (do integrante da banda). Vi uma gritaria, achei que fosse alguma briga. Foi quando gritaram ‘fogo’, vi as pessoas correndo, vi a fumaça e saí correndo.”

Michele Pereira
auxiliar de escritório


“Vi muita gente sendo pisoteada no desespero para sair de lá e acabei cortando o joelho. Foi terrível, cena de filme de horror. Corpos caídos pelo chão, gente desmaiada, chorando, tentando respirar, porque a fumaça era muita.”