Jornal Estado de Minas

Pneumonia química é ameaça para sobreviventes de incêndio em Santa Maria

Sobreviventes que já estavam em casa são levados para o hospital com sintomas nos pulmões e estão em estado grave. Médicos alertam que as primeiras 36 horas são as mais críticas

Alessandra Mello
Pelo menos dois jovens que estavam na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, durante o incêndio na madrugada de domingo adoeceram por causa da inalação de gases tóxicos durante o incêndio que matou, até agora,  231 pessoas. A estudante Ingrid Preigschadt Goldani, de 21 anos, foi internada na madrugada de ontem com quadro de pneumonia química. Ela foi levada para a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Conceição, em Porto Alegre, e está internada em estado grave. Guilherme Ferreira da Luz, 25 anos, que apareceu em um vídeo do incêndio com uma picareta nas mãos ajudando os bombeiros a quebrar uma parede da boate para resgatar vítimas, também foi internado.


O pai de Ingrid, Flávio Goldani, disse que ela escapou do incêndio sem ferimentos, mas no final da tarde de domingo começou a passar mal. Ela foi levada para o Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e em seguida encaminhada, de avião, para a capital gaúcha. “A suspeita é de que seja pneumonia, mas ela está bem, sem febre. Ela foi colocada em coma induzido porque os médicos viram que os pulmões estavam com algumas coisas pretas. Daí a sedaram para que o pulmão dela fique melhor”, disse Goldani. O irmão de Ingrid, Fábio Goldani, disse que ela respirou muita fumaça e tem fuligem nas vias aéreas. “O quadro dela é estável, pois ela está sendo muito bem cuidada e medicada”.

VEJA IMAGENS DA TRAGÉDIA NO RIO GRANDE DO SUL


Guilherme começou a passar mal já de manhã, logo depois do fim do resgate das vítimas, que contou com sua participação. Ele procurou atendimento na cidade, mas seu estado se agravou e ele teve de ser entubado e transferido para o centro de terapia intensiva (CTI) do Hospital das Clínicas, na capital gaúcha. "Ele teve queimaduras nas vias aéreas e teve que ser levado de helicóptero", disse Gilmar Bernardi, tio dele. Os pais de Guilherme estão com ele no hospital e a expectativa da família é de que ele deixe o CTI até amanhã. A imagem do estudante do último semestre do curso de zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) ajudando a derrubar a parede da boate rodou o mundo e já teve milhares de acessos no site Youtube.

No domingo, logo depois da tragédia, em entrevista coletiva o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, alertou os sobrevivente sobre a possibilidade de sintomas de intoxicação mesmo entre aqueles que não precisaram ser atendidos, pois todos correm risco de desenvolver doenças respiratórias graves devido ao alto grau de nocividade da fumaça produzida durante o incêndio.

Por terem inalado fumaça, muitos podem desenvolver doenças como uma pneumonia química ou pulmonia bacteriana. Os sintomas podem surgir até hoje. “O quadro dessas vítimas pode evoluir em até 36 horas depois do incêndio. É preciso ter cuidado se houver dificuldade para respirar, dor de cabeça, chiado e sonolência”, alertou o pneumologista Ariovaldo Leal Fagundes, que atendeu as vítimas no Hospital Universitário de Santa Maria.

A fumaça aspirada pelas vítimas do incêndio da boate Kiss pode conter substâncias tóxicas liberadas durante a combustão de materiais inflamáveis, como a espuma do isolamento acústico presente no teto do estabelecimento, onde o incêndio teria começado. Fagundes destacou que as vítimas até então saudáveis podem apresentar sintomas de pneumonite química. Pelo menos 10 jovens que estiveram na boate procuraram atendimento no hospital depois de sentirem-se mal enquanto estavam em casa. (Com agências)

 

Agronomia perde 31 alunos

Trinta e um alunos do curso de agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) morreram no incêndio da Boate Kiss na madrugada de domingo, quando acontecia uma festa promovida por diversos diretórios acadêmicos da instituição. O professor Silvio Henrique Vidal Dorneles conta que somente de uma de suas turmas morreram oito alunos. “Vai ser muito difícil. Estamos em provas finais. Será muito difícil retornar. Nós professores e todos os demais servidores estamos muito abalados com toda essa tragédia”, contou. Ao todo, 103 alunos da UFSM perderam a vida na tragédia de anteontem.