Jornal Estado de Minas

Depoimentos apontam que dono rebaixou teto de boate Kiss

Dono da casa noturna usou espuma inflamável como isolamento acústico, procedimento vetado pela prefeitura

Agência Estado
Novos depoimentos e documentos obtidos pela Polícia Civil de Santa Maria (RS) comprovam que Elissandro Spohr, o Kiko, dono da boate Kiss, fez uso de uma espuma inflamável para o isolamento acústico vetada por lei municipal, rebaixando o teto da boate em outubro, logo após abaixo assinado de 87 vizinhos contra o barulho do local. Uma ex-gerente da casa, Vanessa Vasconcelos, de 31 anos, informou também que Kiko mandava retirar os extintores das paredes por questão estética.
Ela trabalhou na casa de dezembro de 2010 a dezembro de 2012 e sua irmã morreu na tragédia. "Ele achava feio os extintores. Mandava a gente tirar. Só colocava de volta quando ia ter inspeção ou quando ficava com medo que iriam inspecionar a casa" disse a jovem.

A defesa do proprietário negou a mudança dos extintores e diz que o uso da espuma inflamável foi indicado por uma empresa de engenharia, cujo nome não foi divulgado. "Preciso ter a certeza de tudo para dizer nomes, mas não foi o Kiko que teve a ideia de comprar a espuma, ele teve uma assessoria técnica", afirmou o advogado Jairo Marques. Ele, porém, admite que a colocação da espuma não foi comunicada ao Ministério Público Estadual, com quem o estabelecimento tinha um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado.

As modificações no isolamento acústico da casa podem ter sido decisivas para a causa da tragédia - foram as faíscas de um sinalizador usado pela banda Gurizada Fandangueira que entraram em contato com a espuma e produziram uma fumaça tóxica que matou a maior parte das 235 vítimas. A colocação da espuma, segundo a polícia, também rebaixou o teto da boate, que ficou mais próximo do palco. No projeto original de isolamento acústico indicado pelo MP, só haviam duas camadas, uma de gesso e outra de cera com vidro. A espuma foi colocada na terceira e última camada, abaixo do gesso e da cera.

O delegado regional Marcelo Arigony, chefe das investigações da tragédia, acha que as evidências contra o dono da boate embasam a prorrogação do pedido de prisão temporária de cinco dias dos quatro suspeitos presos e cujo prazo vence no fim da semana. Para a defesa, porém, os argumentos da prisão temporária não possuem mais validade.

"A prisão temporária foi justificada sob a suspeita de que os donos tinham escondido câmeras do circuito interno de segurança. Mas tenho aqui uma assinatura do dono da empresa que fazia a manutenção dos equipamentos dizendo que eles não estavam funcionando", mostrou o advogado. Kiko está internado em Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria. "Ele só saiu da cidade por receio de ser hostilizado."