Jornal Estado de Minas

Fumaça de incêndio de boate leva mais 23 para hospital

Cansaço e falta de ar são os principais sintomas de intoxicação. Mais duas vítimas foram enterradas ontem, em Santa Maria e Rio de Janeiro

Maria Clara Prates
Parece longe do fim o drama das famílias e vítimas do incêndio da Boate Kiss, em que 235 jovens morreram. Ontem, a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) informou que o número de pessoas internadas, em razão da inalação de fumaça tóxica subiu para 143 nos hospitais de Santa Maria e Porto Alegre (RS). São 23 pessoas a mais que procuraram os serviços de saúde porque estavam na boate no momento da tragédia e apresentaram sintomas como cansaço e falta de ar, típicos da pneumonite química que pode ocorrer até cinco dias depois do incêndio. Elas estão internadas em observação e o quadro pode evoluir para a necessidade de respiração por meio de aparelhos.
Veja imagens da tragédia no Rio Grande do Sul

Para colaborar na melhoria desses pacientes, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou ontem um trabalho conjunto de fisioterapeutas. O porta-voz da força do SUS, Neio Pereira, informou que o número de pessoas em estado crítico, com risco de morte, permanece em 75 – 20 deles com queimaduras de pele como quadro principal. Eles estão dentro de um grupo de 82 pessoas internadas em unidades de terapia intensiva (UTIs), sendo que desses 57 estão em Porto Alegre e 25 em Santa Maria. Ao todo, cerca de 500 pessoas já foram atendidas nos hospitais. Segundo Pereira, há também preocupação com os sintomas pós-trauma, que podem atingir as famílias à medida que o tempo  passa.

A dimensão da dor da famílias que perderam parentes no incêndio da Kiss ganhou um rosto ontem. Eliane Gonçalves velou o segundo filho, vítima da tragédia na danceteria, em menos de três dias. Gustavo Marques Gonçalves, de 21 anos, teve morte encefálica confirmada na noite de anteontem. Deives, irmão de Gustavo, foi enterrado no domingo.  “Eles saíam de noite e eu sempre os abençoava. Me perguntavam como eu conseguia dormir com dois filhos na rua. Não adiantava sair com eles. Que Deus os abençoe”, disse Eliane, que é mãe de outras duas filhas.

Consolo Durante o velório, amigos e familiares estavam transtornados. Se abraçavam e choravam juntos pela morte dos irmãos. A mãe dos jovens fez questão de cumprimentar cada um dos presentes na despedida do filho, dos quais recebia abraços e palavras de consolo. "Eu não quero que o velório seja fechado para nenhum amigo", afirmou Eliane. Bruna Yegros, amiga dos jovens, levou um cartaz, com fotos dos irmãos.  

A quilômetros de distância do palco da tragédia, Anna Carolina, filha de 14 anos da capitã do Exército Daniele Dias de Mattos, se emocionou durante o sepultamento da militar no Cemitério de Inhaúma, Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela era médica cardiologista e estava de férias na cidade gaúcha, onde trabalhou por cinco anos na unidade de saúde do Exército. Ela teve o corpo sepultado com honras militares e era treinada para socorrer vítimas de catástrofes, segundo a amiga e tenente Sílvia Nobre. (Com agências)

Mineira melhora

A estudante mineira Ludimila Barati Mendonça, de 26 anos, que está entre as vítimas internadas da tragédia no Rio Grande do Sul, apresentou melhoras ao longo do dia e está consciente. Ela continua no Hospital da Caridade, em Santa Maria, onde recebe sedativos e acompanhamento médico intensivo. “As notícias que tivemos é que a Ludimila está bem melhor. Já está consciente, mas ainda não pode conversar. Os médicos estão mantendo ela sedada porque em alguns momentos fica muito agitada, pensando que ainda está dentro da casa de shows”, conta sua madrinha, Ivete Piva Vicente. Apesar da evolução em seu quadro clínico, ainda não há previsão de alta.