Gil Rugai se calou na quinta-feira diante das perguntas da acusação. Suspeito de matar o pai e a madrasta há quase nove anos, o réu seguiu as orientações de seus advogados e ficou em silêncio diante dos questionamentos do promotor Rogério Zagallo. O silêncio começou por volta das 19h. Antes disso, ao juiz Adilson Simoni, o acusado se declarou inocente e disse desconhecer os motivos da denúncia. “Sou inocente, não sei porque estou aqui.”
Apesar da recusa, a acusação queria fazer as perguntas em plenário para mostrar aos jurados as dúvidas que não seriam respondidas. A defesa protestou e o juiz decidiu que as perguntas não seriam lidas. O julgamento prosseguiu só com questões da defesa. Para o promotor Rogério Zagallo, a postura de Gil ao se calar foi estranha. “Se me acusassem injustamente de matar meu pai, eu ia querer gritar ‘sou inocente’.”
Sobre os motivos que teriam levado à morte do casal, o réu afirmou não conhecer ninguém tão mau capaz de cometer o crime. “Quando estive preso, ficava pensando em quem poderia ter feito isso, mas estava ficando paranoico e então parei de pensar.”
Contra o estereótipo de estranho, comentou todas as atividades que praticou, como cursos superiores de Teologia, Letras, Direito e Matemática. Em seu currículo, constam ainda aulas de rafting, arco e flecha, jiu-jítsu, bartender free-style e clássico, culinária, entre outros.
Durante a respostas, os advogados Thiago Anastácio e Marcelo Feller ainda tentaram desconstruir o motivo que havia levado a acusação a apontar Gil Rugai como o principal suspeito. No processo, o depoimento de um assistente da Referência, empresa do pai de Gil, havia afirmado que no dia 23 de março de 2004, cinco dias antes do crime, Luiz Carlos havia expulsado Gil da empresa depois de uma reunião de quatro horas, por suspeita de desfalque financeiro. Os advogados trouxeram registros de uma estação radiobase (Erb) mostrando que Rugai estaria nas proximidades da Paulista naquele horário.
Na quinta, depois do encerramento do júri, os advogados apontaram um suspeito para o caso: Aguinaldo Silva, assistente pessoal da empresa Referência, que tinha dívida trabalhista de R$ 600 mil com a empresa, segundo Marcelo Seller. “A polícia nunca o investigou.”
Ainda na manhã de quinta-feira, foram ouvidas as três últimas testemunhas. O sócio de Gil Rugai na época do crime, Rudi Otto, afirmou que desconfiou do réu assim que teve notícias da morte do casal. O publicitário contou ter tido essa reação porque já havia visto o acusado com uma pistola no escritório que dividiam nos Jardins, fato que o deixou “desconfortável”. A arma seria guardada por Gil em uma valise - chamada por ele de “mala de fuga”. Nela, também havia duas facas, um canivete, uma estrela ninja e selos com ácido.
A desconfiança levou Otto a “vasculhar” a empresa. “Procurei em tudo e a arma não estava mais lá”, afirmou. Em um depoimento contundente para traçar o perfil do réu, o publicitário ainda disse que Gil estava estranho na semana do crime por ter sido afastado da empresa do pai.
A testemunha também relatou que Gil demonstrava interesse em fazer cursos de tiro e às vezes falava mal da madrasta e do pai, com quem não teria “afinidade”. “Ele dizia que o pai queria dominar o mundo.” O motorista Francisco Alves e o vigia Fabrício dos Santos também testemunharam. Ambos disseram que ouviram os disparos, mas não viram ninguém no local do crime.