Primeira testemunha a ser ouvida no julgamento de Mizael Bispo de Souza, o contador Márcio Nakashima, irmão da advogada Mércia, afirmou nesta segunda-feira que o réu “se transformou” ao longo de seu relacionamento com a vítima. “A Mércia parecia muito feliz no início, mas depois foi mudando. Ele (Mizael) é um sujeito muito ciumento".
Durante o relato da testemunha, Mizael, que, como advogado, integra sua própria equipe de defesa, se retirou da sala antes do início do depoimento, por pedido de Márcio. O irmão de Mércia afirmou que o relacionamento entre os dois durou cerca de quatro anos.
Perguntado pela promotoria sobre as razões que levaram ao fim do namoro, Márcio disse que sabia que a sociedade no escritório de advocacia, entre Mércia e Mizael, ia mal. Segundo ele, Mizael não estaria repassando os honorários da forma como Mércia queria.
“Quando separou o escritório, a Mércia se afastou um pouco. E o Mizael não gostou. Ele ligava e quando não a encontrava, ia atrás dela.” Em um dos casos, Mizael teria ameaçado a ex-namorada de morte, segundo Márcio. Por causa disso, a advogada teria dito ao irmão que queria fechar o escritório.
Após o fim do namoro, de acordo com Márcio, Mizael telefonava constantemente para Mércia. Quando não encontrava a advogada pelo telefone, ele a procurava em casa. No entanto, continuou o contador, Mizael teria parado de rondar o prédio da ex-namorada um dia depois do desaparecimento, em 23 de maio de 2010.
Márcio diz que sua família procurou Mizael quando notou o desaparecimento de Mércia, mas, segundo ele, o ex-policial não quis ajudar.
Pouco antes de um intervalo de cinco minutos, Márcio disse que, durante as investigações, se sentiu ameaçado por Mizael e familiares “várias vezes”. Afirmou que, quando procurou o ex-policial, foi perseguido por Mizael e por seu irmão. “Estava na rua dele para ver se o encontrava. Tivemos que sair de lá fugidos.”
Os advogados de Mizael discordam constantemente das declarações de Márcio. Numa ocasião, bastante emocionado, Márcio se exaltou: “Não me conformo com a safadeza, a cara de pau desses advogados (por dizerem que o Mizael era hostilizado pela família Nakashima).” O advogado Samir Haddad Júnior protestou e pediu para o juiz alertar a testemunha que deve se ater às perguntas do promotor. O juiz Leandro Bittencourt Cano concordou com o defensor. “Atenha-se às perguntas, sem ofender ninguém. Entendo sua dor, mas vamos aguardar a decisão dos jurados”, disse.