Enquanto alguns países alertaram para a ameaça aos elefantes – caçados pelo marfim, e aos crocodilos – caçados pelo couro, o Brasil conseguiu mostrar, para mais de 170 países, o risco da superexploração do setor pesqueiro para quatro espécies marinhas, entre tubarões e arraias.
A oceanógrafa e analista ambiental, Monica Brick Peres, gerente de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros (GBA) da Secretaria de Biodiversidade e Floresta do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que coordenou a elaboração da proposta brasileira, explicou que o alto preço cobrado no mercado internacional pela barbatana ameaça as espécies no mundo e no Brasil.
“Essas espécies estão ameaçadas de extinção no mundo e no Brasil, com declínios populacionais acentuados. A principal ameaça a todas elas é o mercado internacional de barbatanas (nadadeiras, no caso de tubarões e guelras, no caso das raias), que atingem altíssimo valor no mercado oriental”, disse ela.
Durante a 16ª Conferência da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), que terminou nesta quinta-feira, em Bangcoc, na Tailândia, o governo brasileiro defendeu que sem um maior controle desses mercados, essas espécies não terão condições de aguentar a pressão da exploração.
Monica Brick contou à Agência Brasil, que a atuação da delegação brasileira se destacou na conferência. As propostas apresentadas pelo Brasil e a articulação técnica e política com outros países foram trabalhadas por quase um ano pela GBA, pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), que se uniram a especialistas de vários países.
“Nosso peso político e técnico foi muito elogiado. Trabalhamos em conjunto com 29 países da União Europeia, Estados Unidos e lideramos os países da América Latina”, disse. Segundo Monica, ao lado de Equador, Colômbia, Costa Rica, El Salvador e República Dominicana, o Brasil foi um dos principais responsáveis pelas iniciativas de conservação de tubarões e raias.
As quatro propostas haviam sido aprovadas por mais de dois terços dos países presentes no Comitê 1 da conferência e voltaram à votação em plenária, no último dia do encontro, numa tentativa de países oponentes - como Japão e China, de barrar os avanços. “O clima estava tenso e havia muita ansiedade no ar durante a última semana em Bangcoc”, disse Monica, lembrando que o Brasil atuou, durante todo o tempo, com ética e competência diplomática.
Além da conquista com essas espécies, o Brasil votou a favor de várias propostas de controle e proteção de outras espécies ameaçadas. A analista ambiental ainda destacou que a inclusão dessas espécies não significa proibição de pesca ou limitação de mercados, mas um maior controle do comércio.
A Cites representa um acordo internacional entre cerca de 180 nações signatárias, há mais de 40 anos, que se comprometeram com a busca de alternativas para reduzir os problemas causados pela extinção em massa de espécies e perda da biodiversidade mundial.