O desfile do estilista mineiro Ronaldo Fraga ontem, na Semana de Moda de São Paulo, provocou polêmica nas redes sociais, por adornar com palha de aço a cabeça das modelos brancas. A ideia era fazer uma referência ao cabelo dos negros, ao mostrar coleção inspirada no futebol brasileiro dos anos 1930. A proposta, porém, não foi entendida desse jeito. Ativistas da causa não aprovaram a peruca que imitava um suposto cabelo “ruim”, o que consideraram desrespeitoso. O estilista, no entanto, se defende com o argumento de que houve um mal-entendido.
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Disque Racismo é lançado no Distrito FederalAdvogados defendem maior rigor para punição do crime de racismoSupremo faz audiência sobre racismo na obra de Monteiro LobatoEm cinco anos, taxa de homicídios de negros cresce 9%Ronaldo admite problemas na Copa e aprova protestosComemoração do Dia da Abolição da Escravatura não é unânime entre negrosNo Twitter, internautas reclamaram do desfile. Disseram que se sentiram ofendidos e que o estilista apenas reforçou o preconceito. A ouvidora da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial do Distrito Federal (Sepir-DF), Jacira Silva, reconheceu a intenção do estilista de lembrar o dia contra a discriminação racial, mas considerou a representação incoerente. “A prática não ajuda na conscientização da população brasileira, por usar um estereótipo negativo”, destaca.
Sylvany Euclênio, secretária de Comunidades Tradicionais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), conta que, por causa desse preconceito, já teve que incentivar crianças a tocar no cabelo crespo para sentir que não é palha de aço. “Essa associação é feita com algo áspero, desagradável.” O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, considerou a imagem usada pelo estilista uma representação jocosa e caricata. “É uma atitude que, se não foi ingênua, foi cínica. É difícil que alguém não entenda, depois de tanto tempo, o que representa mostrar uma pessoa com peruca de bombril ‘representando’ o cabelo dos negros. Essas práticas estão desgastadas e reiteram que o Brasil precisa avançar muito”, ressalta.
O cabeleireiro e maquiador Marcos Costa, que assinou a beleza do desfile de Ronaldo, definiu a peruca de aço como uma “escultura”. “A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, não importando o fato de serem crespos. Foi também uma forma de subverter um preconceito enraizado na cultura brasileira. Por que o negro tem de alisar seus fios? Eles são lindos”, disse em um comunicado postado no Facebook.
Lena Fraga, irmã do estilista, também saiu em sua defesa na rede social: “Quando vi o desfile e vi as perucas me lembrei dela (da avó Ana, que era negra) no ato, e me emocionei. Agora vêm uns e outros se fazendo de rogados (…), acusando a doce homenagem do estilista de racismo”.