Jornal Estado de Minas

Jurada passa mal e julgamento do massacre do Carandiru é adiado

Segundo o Tribunal de Justiça, novo Júri será realizado na próxima semana

Emerson Campos Renata Mariz Lucas Rage
Protestos em São Paulo lembraram os 111 presos mortos durante o massacre - Foto: AFP PHOTO / Nelson ALMEIDA
Mais uma semana. Este é o novo prazo que acusados e familiares das vítimas do massacre do Carandiru terão que aguardar para que seja julgado o crime ocorrido há mais de duas décadas na capital paulista. Nesta segunda-feira, pouco depois do horário do almoço, o Júri foi cancelado depois de uma jurada passar mal. De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o corpo de sentença – que contava com mais uma mulher e outros cinco homens – precisou ser dissolvido e a sessão foi remarcada.
Ainda segundo o TJSP, o novo julgamento acontecerá na próxima segunda-feira, dia 15 de abril. O começo dos trabalhos no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, está previsto para 9h. Para agilizar os trabalhos, o Juiz José Augusto Marzagão definiu três horas de debates e duas para réplicas e tréplicas, esquema devidamente acordado com acusação e defesa.

PROCESSO DESMEMBRADO O julgamento remarcado para o próxima semana vai decidir o destino de 26 policiais militares (PMs), acusados de matar 15 detentos no segundo pavimento do presídio. Eles respondem por homicídio qualificado mediante recurso que dificultou a defesa das vítimas. Dois deles, Argemiro Cândido e Reinaldo Henrique de Oliveira, foram dispensados do Júri por motivos de saúde, segundo o TJ.

Ao todo, o processo tem 79 PMs denunciados pela morte de 111 presos, mas, devido à impossibilidade de julgar todos ao mesmo tempo, o Judiciário decidiu desmembrar o processo. Os julgamentos dos outros acusados só serão marcados, em blocos de aproximadamente 25 réus, quando terminar o atual Júri.

RELEMBRE O MASSACRE O início da rebelião que terminou nos 111 corpos empilhados e retratados em uma imagem que chocou o mundo é nebuloso. Alguns falam que a briga entre os detentos começou com uma disputa por um varal, outros defendem que a confusão teve relação com o controle da venda de drogas na cadeia. O fato é que, no início da tarde de 2 de outubro de 1992, o que poderia ser um entrevero comum no cotidiano da cadeia se transformou no pior massacre do país. Às 16h25, para conter a rebelião, a Polícia Militar entrou nas galerias do pavilhão. Vinte minutos depois, os 111 estavam mortos. O incidente já foi retratado em livro por Dráuzio Varella e em um filme de Hector Babenco.

ÚNICO JULGADO ESTÁ MORTO Passados mais de 20 anos, o único réu julgado por todos os 111 homicídios foi o coronel Ubiratan Guimarães, que comandou a invasão do Carandiru para controlar o motim. Ele chegou a ser condenado a 632 anos de prisão e responsabilizado por 102 das 111 mortes, Mas acabou absolvido posteriormente. Em 2006, o coronel Ubiratan foi morto com um tiro dentro do próprio apartamento.