Um dia depois de o designer gráfico Isaque Nilton Alves Boschini, 28 anos, ter sido assassinado por reclamar do uso de crack na QE 40 do Guará 2, moradores, comerciantes e funcionários de locais onde domina o tráfico de drogas se sentem acuados. Ontem, o Correio percorreu Plano Piloto, Guará, Taguatinga e Ceilândia e ouviu relatos de pessoas que vivem sob o medo de terem como vizinhos viciados e traficantes. Eles intimidam, ameaçam e praticam roubos para comprar pedras de crack. Reféns da insegurança, os cidadãos trancam as portas, fecham as janelas e não cruzam o olhar com os usuários. Se o fizerem, como ousou Isaque, podem acabar agredidos ou mortos.
Não importa se o dia está claro e se a movimentação de pessoas é grande. No Setor Comercial Sul, o submundo do crack é facilmente visto na Galeria do Ouvidor. O local escuro, sujo e com forte cheiro de urina serve como refúgio para viciados. “É a todo momento. Eles só param de se drogar quando sobem para conseguir dinheiro e fumar de novo. A gente tem medo de não dar o dinheiro, porque eles sabem onde a gente trabalha e fazem questão de nos deixar com medo”, contou a vendedora de uma das lojas do local.Bairro de classe média, o Guará também tem a sua cracolândia. Situada na QE 40, no Setor de Oficinas da cidade, o lugar é um dos mais temidos da cidade. Por ali, usuários de crack inalam pedras à luz do dia. À noite, a situação é pior.
Com iluminação precária e estabelecimentos fechados, os traficantes aproveitam para abastecer os viciados. Carcaças de carros servem de esconderijos para as pedras. “Depois do fim da tarde, ficam uns 10 noiados fumando no trilho do trem. É assustador”, contou um mecânico. Ontem pela manhã, o Correio flagrou um casal inalando crack no local. Sobram dezenas de latinhas queimadas, indício de uso da droga.