Em uma entrevista marcada pela emoção (em alguns momentos ele chegou a chorar), o atual secretário de Finanças do Recife, Roberto Pandolfi, conta pela primeira vez uma história que sua família manteve em segredo durante 43 anos: um espião da Marinha infiltrou-se na casa deles por cerca de um ano, ganhou a confiança de todos e privou das conversas mais íntimas da família. Só foi embora, coincidentemente, após a prisão no Rio da irmã de Pandolfi, Dulce Chaves Pandolfi, que era ligada à ALN (Ação Libertadora Nacional, fundada por Marighela) e foi uma das presas políticas mais torturadas no regime militar.
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Peritos exumam ossada que seria de Alex Xavier, morto durante a ditaduraMilitares lançam livro sobre repressão durante a ditadura no BrasilReunidas em exposição, fotos de famílias mostram perdas e lembram brutalidade da ditadura militarOAB homenageia advogados de presos políticos na ditadura militarNo final de 1970 “Antônio” disse à família que não podia mais continuar com as aulas porque estava terminando o curso de engenharia e iria voltar para sua cidade natal, Belém, do Pará. Mas em 1972, ao ir ao Distrito Naval para aprovação da construção de uma casa, Roberto encontrou o professor – só que agora, em vez das roupas despojadas de universitário, ele estava fardado e “com o peito cheio de estrelas”. Era um oficial da Marinha. “Roberto, o que você tá fazendo aqui?”, perguntou asperamente. Apavorado, Roberto tentou explicar, e antes de terminar foi interrompido por ele: “Isso não é aqui, não!”. Roberto saiu dali apressado e correu para contar ao pai: “Antônio, o professor de Carlinhos, é militar! Antônio, o professor de Carlinhos, é militar!”.
Este é o primeiro caso que se tem notícia de um agente do regime infiltrado numa família. A infiltração era um mecanismo utilizado com sucesso pela repressão, mas sempre direcionada a organizações sindicais, estudantis e de esquerda.