Considerado um dos pivôs dos conflitos entre integrantes da Polícia Militar e do Primeiro Comando Capital (PCC) no ano passado, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia estará no banco dos réus no próximo julgamento dos acusados pelo massacre na Casa de Detenção do Carandiru. A previsão da defesa é que o júri, que está acontecendo separadamente para cada um dos quatro pavimentos onde ocorreu o crime, seja em setembro.
No dia da invasão ao Carandiru, em 2 de outubro de 1992, Madia era tenente e o quarto homem na linha de comando da tropa que retomou o terceiro pavimento do pavilhão 9. Segundo o Ministério Público Estadual, a tomada desse piso foi a mais sangrenta, provocando a morte de 73 detentos. Madia era comandado pelo capitão Valter Alves Mendonça e atuou acompanhado de 28 homens das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota). O coronel Luiz Nakaharada, que em 1992 era do 3° Batalhão de Choque e o oficial mais graduado depois do coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação, também será julgado. Nakaharada é apontado em testemunhos como autor de ao menos cinco homicídios ocorridos no local.
Em novembro de 2011, Madia assumiu o comando da Rota em substituição ao tenente-coronel Paulo Telhada, hoje vereador pelo PSDB. Seis meses depois, na metade do ano passado, integrantes do PCC passaram a matar policiais militares. A atuação truculenta da Rota, que havia matado lideranças da facção, foi um dos motivos apontados para explicar os ataques a policiais. Em setembro de 2012, no auge da crise da segurança, Madia foi retirado do comando da Rota e assumiu o 4° Batalhão de Choque.
Liberdade
Apesar da pena de 156 anos aplicada na madrugada deste domingo a cada um dos 23 policiais militares acusados de matar 13 pessoas no segundo pavimento da Casa de Detenção, os PMs devem ficar ainda alguns anos em liberdade. Alguns deles, como o capitão do Corpo de Bombeiros Marco Ricardo Polinato, que na época era soldado da Rota, devem seguir trabalhando enquanto isso. Para o advogado Marcelo Feller, a importância política do caso pode até acelerar o trâmite do julgamento, que costuma ser lento. Em situações normais, segundo Feller, o recurso no Tribunal de Justiça, pode levar de seis meses a um ano. Nos tribunais superiores, como Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, casos normais podem levar três anos. “Só que é impossível calcular quanto vai levar o caso do Carandiru, dada a grande quantidade de réus”, disse.
O promotor Maurício Ribeiro Lopes, que atuou na área criminal por anos, avalia também que cada caso tem um tempo diferente. “Não tem uma regra assim para isso. Quando o réu está solto, demora muito mais do que quando ele está preso. Mas o caso do Carandiru é fora de qualquer parâmetro”, diz. O promotor estima que, em casos comuns, a apelação ao Tribunal de Justiça não demora mais de dois anos. “Já o tempo do recurso para os tribunais superiores em Brasília é rigorosamente incalculável. Há processos esperando até 20 anos.” Logo depois da sentença, foi justamente esse o alerta do promotor Fernando Pereira da Silva, que atuou na condenação dos PMs na madrugada de ontem. “O caso já levou 20 anos. Esperamos que os recursos não levem o mesmo tempo”.