Um estudante de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB) será o primeiro civil brasileiro a ir literalmente para o espaço. O brasiliense Pedro Doria Nehme, 21 anos, foi o vencedor de uma disputa que considera ser mais difícil que ganhar na loteria. O embarque do jovem ainda não foi definido, mas a previsão é de que seja no começo de 2014. O universitário e outras 129.288 mil pessoas de várias partes do mundo concorreram a uma única vaga a bordo da nave espacial Lynx Mark 2.
Sem dados sobre o artefato, como peso e quantidade de gás hélio que o movia, e ciente apenas de que o objeto seria solto no Deserto de Nevada (EUA), Pedro conta que teve que “chutar” os dois valores ao responder às perguntas. Levado pela intuição e por mínima noção, o palpite do estudante deu certo. O balão alçou voo até que, aos 31km de altitude, a pressão atmosférica explodiu o objeto. O valor foi exatamente o mesmo cravado por Pedro.
Embora tenha saído vitorioso, ele chegou mais perto do local em que os restos do artefato caíram ao solo. O erro foi de 14,7km. “Foi sorte mesmo. Não tinha como fazer um estudo, mas sabia que esses balões podem estourar em uma altitude que vai dos 25km aos 40 km”, contou. “É a mesma coisa de querer saber a distância que uma pessoa traçou daqui até São Paulo sem saber se ela foi de bicicleta, avião ou carro”, comparou.
Pedro terá a companhia apenas de um piloto durante a viagem, avaliada em US$ 95 mil. A aeronave partirá da base aérea espacial de Curaçao, no Caribe. O estudante não terá exatamente a mesma experiência dos astronautas, mas, antes da façanha, receberá treinamento da empresa norte-americana fabricante do transporte e responsável por oferecer voos comercais turísticos, a Space Expedition Corporation (SXC), e passará por check-ups completos de saúde.
O rapaz deverá usar roupas pressurizadas, as mesmas adotadas por militares que desbravam o espaço, como o brasileiro Marcos Pontes — que fez a primeira viagem para o espaço em 2006 a bordo da espaçonave russa Soyuz TMA-8.
Gravidade zero
A viagem durará uma hora. Desses 60 minutos, ele ficará apenas cinco a seis no espaço, sob gravidade zero. Para Pedro, esses minutos serão o suficiente para apreciar uma vista que poucas pessoas no mundo terão oportunidade.“De cima, deve ser muito legal ver a Terra. Observar o contraste do preto da imensidão e do azul do nosso planeta”, imaginou. Até lá, Pedro vai planejar uma forma capaz de fazer com que as pessoas possam acompanhar o feito. “Eu quero divulgar essa experiência ao máximo, em especial, para o povo brasileiro”, destacou.
Dois dias após saber que foi o campeão da disputa, Pedro parecia ainda não acreditar que em breve fará uma viagem para além das nuvens. “Ainda não caiu a ficha. É muita informação de uma vez só. Mas já estou curtindo bastante e eu sei que a experiência será sensacional”, resumiu. “Minha mãe ficou em estado de choque quando soube. Achou até que fosse uma brincadeira”, acrescentou. O estudante diz que nunca sonhou em ser astronauta e muito menos imaginou que um dia pudesse ficar a 103km de distância da Terra. “Eu ficava imaginando que o minissatélite que estou projetando iria para o espaço e eu não. Mas agora eu vou mais longe que ele”.
É no laboratório de automoção e robótica da Faculdade de Tecnologia da UnB que o jovem passa boa parte do tempo. Desde janeiro de 2013, Pedro projeta o LicanSat, um balão que transportará uma câmera embutida em um satélite responsável por fazer trabalhos relacionados à meteorologia e ao geoprocessamento. Antes, o jovem cientista integrava um grupo de estudantes que criaram um veículo aéreo não tripulado (Vant). Ele teve que deixar o estudo para embarcar para os EUA, ao ser um dos sete universitários selecionados para estagiar na National Aeronautics and Space Administration (Nasa), em 2012. “Eu vejo isso que está acontecendo comigo como um presente por tudo o que já estudei e por ter me dedicado bastante no que já fiz e tenho feito”, analisa.
Embora nunca tenha pensado em ser tripulante de uma espaçonave, Pedro entrou na UnB interessado em seguir carreira no setor aéreo. Mas foi em 2011, durante um curso no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que o jovem decidiu trabalhar nessa área. “Confesso que a tecnologia aerospacial me incentivou bastante a tomar essa escolha”, afirmou o aluno.
Para saber mais
Sem foguetes
Ao contrário de todas as outras espaçonaves desenvolvidas anteriormente, incluindo o Ônibus Espacial, a Lynx Mark 2 da SXC (Space Expedition Corporation) é equipada com um sistema independente de decolagem e aterrissagem. Os quatro motores de foguetes podem ser desligados ou ligados em voo a qualquer momento. Não há foguetes descartáveis nem aterrissagens em mar. Ela simplesmente parte da pista na estação espacial de Curaçao, no Caribe, e volta a uma pista depois do voo. O tripulante convidado estará sentado ao lado do piloto, revisando a lista de verificação da decolagem, quando os quatro motores são iniciados.