Os três suspeitos de atear fogo e matar a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, de 47 anos, durante assalto ao consultório dela, em São Bernardo do Campo, confessaram o crime. O menor E., de 17 anos, que fará 18 anos em junho próximo, assumiu a responsabilidade de atear fogo na dentista. Ele disse que jogou álcool no corpo da vítima e começou a ameaçá-la com um isqueiro. Segundo a delegada Elisabete Sato, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o adolescente contou o crime com frieza, como se estivesse contando o capítulo de uma novela.
O menor E. disse que estava "isquerando" Cinthya para assustá-la, mas que acabou perdendo o controle e ateando fogo nela. De acordo com a polícia, os bandidos ainda tentaram apagar as chamas, elas saíram do controle e os criminosos acabaram fugindo. Com Vitor Miguel a polícia encontrou uma arma, que teria sido usada no assalto.
O crime ocorreu na quinta-feira. A dentista foi morta porque só tinha R$ 30 na conta bancária, sacados por Jonathan, flagrado pela câmera de segurança do posto de gasolina onde usou o caixa eletrônico para fazer o saque. A confirmação de que se tratava de Jonathan foi feita pela própria mãe do rapaz, que esteve na delegacia depois de uma pessoa tê-la avisado de que ele aparecia nas imagens.
Os suspeitos foram detidos às 3 horas de ontem por policiais do 20º Distrito Policial nas imediações da favela Santa Cruz, entre São Bernardo do Campo e Diadema. Eles estavam numa casa e não esboçaram reação. Jonathan e o menor descoloriram os cabelos para não ser reconhecidos.
O delegado geral da Polícia Civil, Luiz Maurício Souza Blazeck, disse que o crime está esclarecido. “Demos a resposta que a socidade esperava. O caso foi esclarecido”, afirmou Blazeck. Por sua vez, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que lamenta o envolvimento de um adolescente no assassinato da dentista. “Lamentavelmente, mais um menor (está envolvido). A gente tem visto menores em crimes extremamente hediondos. Mais um menor, mas a polícia agiu rápido", disse o governador, que classificou o crime como "gravíssimo". Alckmin vem defendendo a mudança na legislação que trata da maioridade penal.
Quadrilha já teria agido antes
A mesma quadrilha que matou a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza durante roubo, na quinta-feira, já teria praticado entre seis e oito crimes, a maioria assaltos a consultórios odontológicos na região do ABC paulista, segundo informações da Polícia Civil. O grupo teria também realizado pelo menos um roubo a residência na Zona Sul de São Paulo.
“Refizemos a rota de fuga deles e procuramos testemunhas presenciais”, disse o delegado Waldomiro Bueno Filho, da seccional de São Bernardo do Campo, onde ocorreu o crime de quinta-feira, acrescentando que a quadrilha costuma utilizar uma arma prateada nas ações. As pessoas ouvidas contaram ainda que nos assaltos anteriores o grupo foi violento e fez ameaças de atear fogo no corpo das vítimas com um isqueiro, atitude idêntica à confessada pela quadrilha em relação ao assalto que levou à morte de Cinthya.
Os três criminosos entraram no consultório da dentista enquanto ela atendia uma paciente e um deles disse que estava com muita dor de dente. Ela abriu a porta, e o trio anunciou o assalto. A vítima, sem dinheiro na bolsa, entregou o cartão bancário e a senha para dois dos criminosos. O terceiro continuou no consultório com a dentista. A paciente foi rendida e encapuzada.
Ao voltar, a dupla teria reclamado que na conta bancária da dentista havia somente R$ 30. Após uma discussão, os criminosos jogaram álcool e atearam fogo na vítima, que morreu no local. Os três assaltantes fugiram no Audi A3, dirigido por um quarto comparsa, segundo testemunhas.
A paciente disse à polícia que ouviu muita gritaria na recepção do consultório, e gritos da vítima apavorada. “Segundo ela, os bandidos disseram que não era a primeira pessoa que tinham matado e que não teriam problema em matar mais uma”, contou o delegado.
Solteira, a dentista morava com a família – pai, mãe e uma irmã – numa casa ao lado do consultório. A mãe ajudava a filha, marcando consultas dos pacientes. “A vida dela era o trabalho. Era uma menina de casa para o serviço. A vida dela se resumia à nossa família”, disse a mãe da dentista assassinada, Risoleide de Souza. O corpo da dentista foi enterrado sexta-feira, no Cemitério da Vila Euclides. O velório ocorreu com o caixão lacrado.