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Estado de Minas

Menor confessa ter incendiado dentista

Em um relato frio, segundo delegada, jovem preso com dois comparsas assume a responsabilidade pelo crime


postado em 28/04/2013 06:00 / atualizado em 28/04/2013 09:54

Os três suspeitos de atear fogo e matar a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza, de 47 anos, durante assalto ao consultório dela, em São Bernardo do Campo, confessaram o crime. O menor E., de 17 anos, que fará 18 anos em junho próximo, assumiu a responsabilidade de atear fogo na dentista. Ele disse que jogou álcool no corpo da vítima e começou a ameaçá-la com um isqueiro. Segundo a delegada Elisabete Sato, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o adolescente contou o crime com frieza, como se estivesse contando o capítulo de uma novela.

Os demais envolvidos são Jonathan Cassiano Araújo, de 21 anos, que aparece em imagens de vídeo de uma câmera de segurança de um posto próximo ao consultório e teria dirigido o carro usado pela quadrilha; Vitor Miguel Santos da Silva, de 24 anos; e Tiago de Jesus Pereira, de 25 anos, que segue foragido e está sendo procurado pela polícia. Um segundo adolescente, de 17 anos, foi detido por ter ajudado a esconder Vitor e o outro menor de idade e está sendo investigado por participar de outros crimes praticados pelo grupo.

O menor E. disse que estava "isquerando" Cinthya para assustá-la, mas que acabou perdendo o controle e ateando fogo nela. De acordo com a polícia, os bandidos ainda tentaram apagar as chamas, elas saíram do controle e os criminosos acabaram fugindo. Com Vitor Miguel a polícia encontrou uma arma, que teria sido usada no assalto.

O crime ocorreu na quinta-feira. A dentista foi morta porque só tinha R$ 30 na conta bancária, sacados por Jonathan, flagrado pela câmera de segurança do posto de gasolina onde usou o caixa eletrônico para fazer o saque. A confirmação de que se tratava de Jonathan foi feita pela própria mãe do rapaz, que esteve na delegacia depois de uma pessoa tê-la avisado de que ele aparecia nas imagens.

Os suspeitos foram detidos às 3 horas de ontem por policiais do 20º Distrito Policial nas imediações da favela Santa Cruz, entre São Bernardo do Campo e Diadema. Eles estavam numa casa e não esboçaram reação. Jonathan e o menor descoloriram os cabelos para não ser reconhecidos.

O delegado geral da Polícia Civil, Luiz Maurício Souza Blazeck, disse que o crime está esclarecido. “Demos a resposta que a socidade esperava. O caso foi esclarecido”, afirmou Blazeck. Por sua vez, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que lamenta o envolvimento de um adolescente no assassinato da dentista. “Lamentavelmente, mais um menor (está envolvido). A gente tem visto menores em crimes extremamente hediondos. Mais um menor, mas a polícia agiu rápido", disse o governador, que classificou o crime como "gravíssimo". Alckmin vem defendendo a mudança na legislação que trata da maioridade penal.

 

Quadrilha já teria agido antes

A mesma quadrilha que matou a dentista Cinthya Magaly Moutinho de Souza durante roubo, na quinta-feira, já teria praticado entre seis e oito crimes, a maioria assaltos a consultórios odontológicos na região do ABC paulista, segundo informações da Polícia Civil. O grupo teria também realizado pelo menos um roubo a residência na Zona Sul de São Paulo.

“Refizemos a rota de fuga deles e procuramos testemunhas presenciais”, disse o delegado Waldomiro Bueno Filho, da seccional de São Bernardo do Campo, onde ocorreu o crime de quinta-feira, acrescentando que a quadrilha costuma utilizar uma arma prateada nas ações. As pessoas ouvidas contaram ainda que nos assaltos anteriores o grupo foi violento e fez ameaças de atear fogo no corpo das vítimas com um isqueiro, atitude idêntica à confessada pela quadrilha em relação ao assalto que levou à morte de Cinthya.

Os três criminosos entraram no consultório da dentista enquanto ela atendia uma paciente e um deles disse que estava com muita dor de dente. Ela abriu a porta, e o trio anunciou o assalto. A vítima, sem dinheiro na bolsa, entregou o cartão bancário e a senha para dois dos criminosos. O terceiro continuou no consultório com a dentista. A paciente  foi rendida e encapuzada.

Ao voltar, a dupla teria reclamado que na conta bancária da dentista havia somente R$ 30. Após uma discussão, os criminosos jogaram álcool e atearam fogo na vítima, que morreu no local. Os três assaltantes fugiram no Audi A3, dirigido por um quarto comparsa, segundo testemunhas.

A paciente disse à polícia que ouviu muita gritaria na recepção do consultório, e gritos da vítima apavorada. “Segundo ela, os bandidos disseram que não era a primeira pessoa que tinham matado e que não teriam problema em matar mais uma”, contou o delegado.

Solteira, a dentista morava com a família – pai, mãe e uma irmã – numa casa ao lado do consultório. A mãe ajudava a filha, marcando consultas dos pacientes. “A vida dela era o trabalho. Era uma menina de casa para o serviço. A vida dela se resumia à nossa família”, disse a mãe da dentista assassinada, Risoleide de Souza. O corpo da dentista foi enterrado sexta-feira, no Cemitério da Vila Euclides. O velório ocorreu com o caixão lacrado.
 


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