Enquanto o governo planeja importar médicos para reduzir o déficit de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), um grupo de pelo menos 2.399 estrangeiros já atua no País. Dados da edição atual da Demografia Médica no Brasil mostram que os profissionais são oriundos de 53 países - a América Latina representa 94% do total. No topo da lista estão os bolivianos, que somam 880, seguidos por 401 peruanos e 264 colombianos. Cuba está em quarto lugar, com 216 médicos trabalhando em território nacional.
A pesquisa elaborada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) também revela que os estrangeiros não escolhem localidades remotas do Brasil para trabalhar. A maioria vem para cá para atender pacientes nos grandes centros urbanos, especialmente os da Região Sudeste, como a capital paulista. E, assim como os profissionais brasileiros, a maior parte dos médicos importados também não tem títulos de especialistas - são apenas clínicos. Para atrair médicos às áreas mais remotas do País, não é preciso implementar uma política de importação de profissionais, na análise do CFM.
Melhores condiçõesA entidade, que na semana passada ingressou com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) para impedir a ação do governo, reivindica melhores condições de trabalho aos brasileiros. O presidente do conselho, Roberto d’Avila, argumenta que os problemas da assistência em saúde não se limitam à falta de médicos.
“A má gestão do SUS e o baixo investimento público na saúde são fatores fundamentais para o quadro atual. Por exemplo, na Inglaterra, o governo responde por 84% dos investimentos em saúde. Na Argentina, esse porcentual fica em 68%. Enquanto isso, no Brasil, ele bate na casa dos 44%.”
Para Dante Dianezi Gambardella, doutorando do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da USP, o Ministério da Saúde tem de esclarecer à sociedade médica quais critérios vai utilizar no processo de seleção e contratação dos médicos estrangeiros. “Será preciso saber, por exemplo, como o governo vai conseguir manter esses profissionais em locais distantes dos grandes centros. Se vai se criar condições para isso, elas servirão também para os médicos brasileiros.”