As redações de menores internos em centros socioeducativos sobre a redução da maioridade penal abordam também uma face cruel da vida dos jovens infratores no Brasil: a dependência química. Pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta que 75% deles usam algum tipo de entorpecente. Os mais comuns são a maconha e o crack. “A causa maior da criminalidade são as drogas. Se houvesse uma campanha bem elaborada antidrogas e tratamento para os que já são usuários, com certeza (a criminalidade) diminuiria bastante”, escreveu um dos internos.
Uma única redação, das 81 analisadas, recorreu ao argumento da falta de capacidade para entender a gravidade do ato praticado, colocando a responsabilidade na conta do governo. “É errado (a redução da maioridade penal) porque nós somos crianças, não temos mentalidade de adulto, a gente faz o que faz por causa do governo. Nossas famílias passam necessidades e os políticos ficam roubando, e o juiz vai lá e absolve eles (sic)”, diz a redação. Outro jovem não se isenta de culpa, mas explica o que o levou “pro mundo da criminalidade”: “Muitas vezes nossas famílias não têm condições de comprar uma roupa, um calçado, de dar dinheiro para (o jovem) se divertir, e não só eu, mas muitos adolescentes reconhecem as necessidades dentro de casa, sabemos que os recursos no fim do mês mal dão para chegar até o próximo mês. Basta dar uma volta na rua que já nos deparamos com moleques da mesma idade com uma bermuda da hora, um calçado lançamento, celulares, dinheiro, enfim, a tentação é muito grande. Não estou querendo dizer que esse é o motivo de entrar pro mundo da criminalidade, não, mas é um deles”, explica o jovem.
Os dados oficiais sobre os atos infracionais mais cometidos no Brasil dão embasamento à explicação do jovem. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 52% dos delitos que levaram os adolescentes a internação são contra o patrimônio (furto ou roubo) e 26%, ligados a drogas. Os crimes contra a pessoa (homicídio, tentativa de homicídio e lesão corporal) correspondem a 18%. Atos contra a dignidade sexual, como estupro ou atentado violento ao pudor, somam 1% dos registros.