"Os casais gays, em razão de suas características de associação de cor e escolaridade, contribuem menos para a transmissão de desigualdades na estrutura social", diz a economista Fernanda Fortes de Lena, responsável pelo estudo da UFMG. Em 2010, ela também trabalhou no Censo, que identificou 34,4 milhões de casais heterossexuais e que, pela primeira vez, mapeou 60 mil uniões gays.
Especialista em relações homoafetivas, a psicóloga Adriana Nunan aposta em duas causas para a mistura maior entre gays: a população reduzida dos homossexuais que limita a escolha e a flexibilidade de quem está fora dos padrões de comportamento. "Os gays não precisam copiar o modelo dos heterossexuais. Eles criam suas próprias regras."
Regina Facchini, antropóloga do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), apresenta outra interpretação: "Há a preponderância da valorização da diferença no universo homossexual, e não falta de escolha. Entre os heterossexuais existe um ideal romântico, no qual o homem deve ser um pouco mais velho e as uniões devem obedecer certos padrões", avalia. "Existem orientações culturais, como se fossem fantasias coletivas."
Cícero Rodrigues, de 56 anos, e José Itoiz Sanches, de 84, formam um desses casais gays diversificados - e Rodrigues é o chefe da família. "Sempre gostei de coroas", diz ele, que há 12 anos é dono do bar Caneca de Prata, na região central de São Paulo, onde, em 1986, conheceu o marido. O local reúne homens de 18 a 90 anos de idade. "Jovem que gosta de coroa vem ao Caneca. A maioria não sente atração por pessoas mais jovens", diz Rodrigues.
Mais diversidade. Lula Ramires, de 53 anos, e Guilherme Nunes, de 27, não são apenas de gerações diferentes como têm graus de escolaridade distintos. O mais velho é doutor em Educação e o mais jovem, formando em Gestão de Sistemas. Em 2011, tiveram o primeiro pedido de conversão de união em casamento negado. "Só conseguimos celebrar a união em março de 2012, em um cartório de Osasco", diz Ramires.
A integração de cor também é maior entre homossexuais - 6,88% deles têm uniões de preto com branco, contra 3,88% dos heterossexuais. "Todos os meus ex-namorados eram negros. Não é que apenas negros me atraiam, mas não tenho problema com questão racial", diz o professor José Aniervson dos Santos, de 26 anos, que é branco e namora o designer Shabaaka Piankhi Smalls, de 23, negro e americano.
"Há diferenças culturais entre negros e brancos. Se há amor e respeito, as diferenças são mínimas", diz Smalls. As diferenças são tão pequenas que o casal, que se conheceu há 9 meses em Atlanta, nos Estados Unidos, já pensa grande. "Chegaremos ao Brasil no dia 19 deste mês e vamos nos casar no fim de agosto ou início de setembro", conta Santos. Ele e Smalls, que estão de malas prontas para viver em Pernambuco, vão aumentar ainda mais as estatísticas descortinadas pelo estudo da UFMG.