Enquanto ninguém se entende, outros protestos continuam sendo marcados. Os manifestantes do Movimento Passe Livre prometem nova passeata, na segunda-feira, para reclamar da ação ostensiva da tropa de choque na PM na noite de quinta-feira. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 232 pessoas foram detidas para averiguações e quatro presas. Oficialmente, nem Polícia Militar, nem Polícia Civil nem tampouco a Secretaria de Segurança divulgam número de feridos. O Movimento Passe Livre afirma que foram 100. O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, atingido por uma bala de borracha, passou ontem por uma cirurgia para costurar o globo ocular, mas as chances de que ele recupere a visão seguem abaixo de 5%.
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Analistas acreditam que as manifestações só vão diminuir com abertura do diálogoManifestantes protestam em Brasília às vésperas da abertura da Copa das ConfederaçõesImagens de protestos no Brasil são destaque em todo o mundoApós São Paulo, 27 cidades pelo mundo terão atos de protestoO chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Edson Aparecido, acusou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de politizar um episódio que está espalhado pelo país inteiro. “Existe uma pressão inflacionária que provocou o reajuste das tarifas e eles não falam nisso. E vem o ministro da Justiça, que não deu um telefonema para o governador nem para o secretário de Segurança (Fernando Grella), oferecer ajuda via imprensa”, criticou o tucano.
A imagem de Cardozo não está ruim apenas no Palácio dos Bandeirantes. No Palácio do Planalto também. O Estado de Minas apurou que repercutiram muito mal as declarações dadas pelo ministro, há dois dias, dizendo que os manifestantes estavam praticando atos de vandalismo. “No dia seguinte, a Polícia Militar agiu daquela maneira. Cardozo foi cobrado duramente, ficou parecendo que nós corroboraríamos ações mais duras de repressão”, disse um interlocutor do governo.
No início da noite dessa sexta-feira, o ministro criticou a ação da PM e explicou que a declaração anterior se referiu às manifestações do início da semana. “A violência praticada em nome do Estado não pode ser tolerada. A PM tem o dever de conter abusos, mas nunca agir de forma arbitrária e violenta”, cobrou.
Ordem pública A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, jogou a bomba no colo dos governos estaduais e municipais. “Apesar de o transporte urbano ser responsabilidade do município e, em determinados aspectos, dos governos estaduais, o governo federal entrou pesado em termos de recursos para facilitar as coisas”, argumentou. Ela citou o corte de impostos federais das passagens e cobrou que as outras duas esferas façam o mesmo.
No início da noite, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, confirmou que convidou representantes do Movimento Passe Livre para participar da reunião do Conselho da Cidade, na terça-feira. Ele afirmou, contudo, que isso não representa um recuo na decisão de reajustar a passagem de R$ 3 para R$ 3,20. “O movimento nos pediu espaço para discutir o tema, estamos abrindo debate”, afirmou.