Jornal Estado de Minas

Protestos contra preços de passagens ganham tom político

Ação da PM em São Paulo provoca jogo de empurra entre autoridades federais, estaduais e municipais. Tucanos culpam a inflação por alta de tarifas. Petistas criticam a força policial

Paulo de Tarso Lyra Juliana Braga Júlia Chaib Juliana Colares
A Tropa de Choque da PM usou balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes. Cerca de 200 pessoas foram presas - Foto: Marcos Bizzotto/Futura Press/Folhapress
 A crise política derivada do confronto entre manifestantes e policiais militares por conta do reajuste das tarifas de transporte público em São Paulo subiu no palanque de 2014 e transformou-se em um jogo de empurra entre autoridades federais, estaduais e municipais. Aliados do prefeito Fernando Haddad (PT) dizem que as próximas manifestações serão contra a truculência da polícia do governo de Geraldo Alckmin (PSDB); os tucanos admitem que houve excessos da PM, mas acrescentam que as passagens subiram por causa da inflação, gerada pelo descontrole do governo federal; e o Planalto lembra que convenceu o prefeito e o governador a reajustar as passagens para R$ 3,20 e não R$ 3,30, como previsto.

Enquanto ninguém se entende, outros protestos continuam sendo marcados. Os manifestantes do Movimento Passe Livre prometem nova passeata, na segunda-feira, para reclamar da ação ostensiva da tropa de choque na PM na noite de quinta-feira. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, 232 pessoas foram detidas para averiguações e quatro presas. Oficialmente, nem Polícia Militar, nem Polícia Civil nem tampouco a Secretaria de Segurança divulgam número de feridos. O Movimento Passe Livre afirma que foram 100. O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, atingido por uma bala de borracha, passou ontem por uma cirurgia para costurar o globo ocular, mas as chances de que ele recupere a visão seguem abaixo de 5%.

Acuado, o governador Geraldo Alckmin, insiste que a polícia reagiu para combater atos de vandalismo, mas assegurou que os excessos serão apurados: “O abuso já está sendo investigado. Mas queria destacar o caráter político do movimento que ocorre nas principais capitais do país, inclusive em cidade que não teve aumento de tarifa.” Ontem, houve protestos em Niterói, com rápido confronto entre manifestants e policiais.

O chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Edson Aparecido, acusou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de politizar um episódio que está espalhado pelo país inteiro. “Existe uma pressão inflacionária que provocou o reajuste das tarifas e eles não falam nisso. E vem o ministro da Justiça, que não deu um telefonema para o governador nem para o secretário de Segurança (Fernando Grella), oferecer ajuda via imprensa”, criticou o tucano.

A imagem de Cardozo não está ruim apenas no Palácio dos Bandeirantes. No Palácio do Planalto também. O Estado de Minas apurou que repercutiram muito mal as declarações dadas pelo ministro, há dois dias, dizendo que os manifestantes estavam praticando atos de vandalismo. “No dia seguinte, a Polícia Militar agiu daquela maneira. Cardozo foi cobrado duramente, ficou parecendo que nós corroboraríamos ações mais duras de repressão”, disse um interlocutor do governo.

No início da noite dessa sexta-feira, o ministro criticou a ação da PM e explicou que a declaração anterior se referiu às  manifestações do início da semana. “A violência praticada em nome do Estado não pode ser tolerada. A PM tem o dever de conter abusos, mas nunca agir de forma arbitrária e violenta”, cobrou.

Ordem pública A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, jogou a bomba no colo dos governos estaduais e municipais. “Apesar de o transporte urbano ser responsabilidade do município e, em determinados aspectos, dos governos estaduais, o governo federal entrou pesado em termos de recursos para facilitar as coisas”, argumentou. Ela citou o corte de impostos federais das passagens e cobrou que as outras duas esferas façam o mesmo.

No início da noite, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, confirmou que convidou representantes do Movimento Passe Livre para participar da reunião do Conselho da Cidade, na terça-feira. Ele afirmou, contudo, que isso não representa um recuo na decisão de reajustar a passagem de R$ 3 para R$ 3,20. “O movimento nos pediu espaço para discutir o tema, estamos abrindo debate”, afirmou.