A maior cidade brasileira pode parar. Depois de uma semana de protestos contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô na capital paulista, que começaram nas redes sociais e ganharam as ruas de todo o Brasil, principalmente depois da ação violenta da Polícia Militar contra o protesto na quinta-feira, uma nova manifestação está marcada para hoje, no Centro de São Paulo. Quase 150 mil pessoas já confirmaram presença na página convocatória do ato postada pelo Movimento Passe Livre (MPL) no Facebook .
O mote mais uma vez é o preço e a qualidade do serviço público, mas as passeatas estão sendo engrossadas pelos movimentos dos atingidos pela Copa, servidores públicos em greve por melhores salários e por minorias em busca de direitos iguais. Brasileiros que moram fora também aderiram ao coro e fizeram ontem passeatas na Alemanha, Irlanda, Canadá e Estados Unidos em apoio aos movimentos nacionais. Uma escalada de manifestações deve ocorrer em pelo menos 54 municípios de 17 estados, entre eles Belo Horizonte, e em cidades de 11 países.
Para evitar repetição das cenas de confronto da PM com os manifestantes, que foram exibidas mundo afora via redes sociais, a Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo convocou os líderes do MPL para uma conversa logo pela manhã, antes do início da caminhada, cuja concentração está marcada para as 17h, no Largo da Batata, em Pinheiros, Região Central da capital paulista.
O secretário de Segurança, Fernando Grella, quer que a PM combine com os idealizadores o trajeto a ser percorrido, para "garantir que a manifestação seja pacífica". Será o quinto protesto em 10 dias contra o aumento da passagem de R$ 3 para R$ 3,20. O último, na quinta-feira, teve a adesão de 20 mil pessoas. Durante o protesto, mais de 240 pessoas foram presas, e segundo o MPL, pelo menos 100 ficaram feridas. A PM afirma que 13 policiais também se machucaram. Não há informação oficial sobre o número de civis feridos. Com a combinação prévia do trajeto, o governo do estado pretende evitar o uso da tropa de choque, balas de borracha e de bombas de efeito moral. “Acreditamos que não será necessário, porque a manifestação se dará de forma ordenada e ocorrerá pacificamente", disse o secretário.
Ontem, em Dublin, na Irlanda, cerca de 2 mil pessoas foram às ruas dar apoio aos brasileiros. Novo protesto está marcado para hoje, em Galway, terceira maior cidade irlandesa. O mineiro Guilherme Pedrosa, de 22 anos, já confirmou presença. Segundo ele, na Irlanda, a convocação para os atos está sendo feita pelos brasileiros radicados lá. “Mas a ideia é abranger todo mundo. A gente sabe que qualquer tipo de protesto que a gente fizer aqui não vai ter 1% da força que teria em São Paulo ou Belo Horizonte, por isso estamos convidando todos os nossos amigos estrangeiros para participarem. E todos têm sido bem receptivos”, conta.
Mesmo longe, a torcida de Guilherme é para que os protestos sejam pacíficos e tenham resultados. “Nossa geração sempre foi tachada de apática, por receber tudo muito fácil devido à tecnologia, mas a gente está mostrando que não é bem assim. Um dos cartazes mais geniais que eu vi durante todo esse processo foi ‘Saímos do Facebook’. Acho que isso resume bem o que está acontecendo. Os rótulos estão caindo e espero que, com isso, as mudanças ocorram de uma maneira mais clara”, defende.
Defesa O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado, defendeu, em nota, os protestos realizados em diversas capitais do país contra o aumento das passagens de ônibus e condenou a violência empregada por policiais contra os manifestantes. No texto, ele cobrou que as manifestações "devem ser analisadas dentro de um contexto mais profundo de insatisfação da sociedade dentro de um Estado que não justifica seus atos e, portanto, não respeita os cidadãos". "Os protestos liderados pelos jovens servem de alerta aos governantes que, em vez de buscar o diálogo, recorrem ao uso de força excessiva da Polícia Militar", afirmou Furtado. O presidente da OAB disse que “não se pode aceitar o Estado policial que responde com bombas”, mas afirmou que, da mesma forma, a entidade “condena atos de vandalismo contra o patrimônio, seja ele público ou privado".