Jornal Estado de Minas

Manifestantes afinam gritos de protesto em torno de cinco reivindicações, mas violência ameaça coro

Lista que circula nas redes sociais reúne principais pautas de movimento que parou o Brasil, mas mobilização pacífica é ameaçada por mais um dia com atos de vandalismo e violência provocados por grupos isolados. Nessa quinta-feira, um homem morreu em Ribeirão Preto e pelo menos 180 pessoas ficaram feridas em tumultos no Rio de Janeiro e em Brasília. Em BH, uma agência bancária foi incendiada

Emerson Campos
Cartazes mostram a diversidade de pautas que aparecem nas manifestações - Foto: AFP PHOTO / YURI CORTEZ
Não é só por R$ 0,20. Nem pelos R$ 0,05 oferecidos em Belo Horizonte. Os gritos que ecoam pelo país desde a última semana e que levaram mais de um milhão de brasileiros às ruas nesta quinta-feira surgem de reivindicações que vão desde pautas abstratas e genéricas, como "mais educação" e "menos corrupção", até a pedidos mais objetivos, como a legalização da maconha e a votação contrária ao Estatuto do Nascituro. No entanto, os incontáveis sentimentos que mobilizaram os jovens da nação, resultando na redução das tarifas do transporte público em diversas cidades, começam a ganhar forma mais definida em uma lista que circula pelas páginas criadas para divulgar o movimento nas redes sociais.
No topo das reivindicações aparece o fim da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37. A PEC limita a atuação do Ministério Público (MP), conferindo às polícias a exclusividade em investigações criminais. Segundo os manifestantes, caso aprovada, a Emenda impediria o MP de seguir fiscalizando casos de corrupção e fraudes no Legislativo e Executivo.

O segundo item nas reivindicações é a exigência de que o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), renuncie ao cargo. Em fevereiro, o senador assumiu o comando da Casa pela terceira vez em meio a protestos no país, já que era alvo de uma denúncia da Procuradoria da República.

Renan Calheiros assumiu o comando do Senado em meio a protestos no país - Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino - 24/02/2013
Os manifestantes exigem ainda a investigação e punição de possíveis irregularidades na realização da Copa do Mundo. Esta semana, durante as manifestações, as estimativas de gastos com o Mundial subiram novamente, desta vez em R$ 2,5 bilhões, chegando ao total de R$ 28 bi. Por fim, a lista pede alterações no Código Penal Brasileiro, transformando corrupção em crime hediondo, e também na Constituição, extinguindo o foro privilegiado.

Violência ameaça coro único

Desde o episódio na última sexta-feira, em São Paulo, quando policiais dispararam bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra manifestantes, que, durante as mobilizações realizadas em todo o país, se formou um clima de preocupação em manter os protestos pacíficos. No entanto, nos último seis dias, por diversas vezes a tranquilidade e os gritos do estudantes foram substituídos por muita correria e atos de vandalismo e violência provocados por grupos menores. O mais grave deles foi registrado na última noite, em Ribeirão Preto, São Paulo, quando um manifestante, ainda não identificado, morreu depois de ser atropelado por um homem que avançou com o carro sobre a multidão. Outras três pessoas ficaram feridas.

No Rio de Janeiro, pelo menos 62 pessoas ficaram feridos em confronto - Foto: AFP PHOTO
No Rio de Janeiro, onde mais de 300 mil pessoas manifestaram, houve mais atos de vandalismo durante a noite. Pelo menos 62 pessoas ficaram feridas e foram encaminhadas aos hospitais da região. Entre elas, um repórter do canal a cabo Globo News. Em Brasília, outros 120 manifestantes ficaram feridos. Vândalos chegaram a colocar fogo na porta do Palácio do Itamaraty. A mobilização reuniu 30 mil pessoas na capital federal.

Também foram registrados atos de vandalismo em Salvador e em Belém, onde o prefeito da cidade, Zenaldo Coutinho, foi recebido a pedradas pelos manifestantes na porta da prefeitura.

Pelo menos 120 manifestantes ficaram feridos na capital federal - Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino
Durante toda a quinta-feira a capital mineira foi exemplo, com os próprios manifestantes identificando os baderneiros e solicitando a ação da Polícia Militar. No entanto, no fim do dia, uma agência do Banco Itaú, na Rua da Bahia, no Centro de Belo Horizonte, foi incendiada. Na terça-feira, um grupo menor, formado por pessoas mascaradas, já tinha depredado outras duas agências bancárias e provocado terror na Avenida Afonso Pena. LEIA MAIS.

Confira as cidades onde a tarifa de ônibus foi reduzida:
- Foto: Soraia Piva/EM