A gari Cleonice Vieira de Moraes, de 51 anos, que trabalhava para a prefeitura de Belém, varrendo ruas da área do mercado Ver-o-Peso, no centro, morreu na manhã desta sexta-feira, 21, no Pronto-Socorro do Guamá, após sofrer duas paradas cardíacas. Cleonice foi uma das pessoas intoxicadas por gás lacrimogêneo durante manifestação na cidade na quinta-feira, 20. É a segunda morte na onda de protestos pelo País. Em Ribeirão Preto (SP), um jovem de 18 anos foi morto por um motorista que avançou com o carro sobre a manifestação.
Cleonice era hipertensa e teria morrido de infarto fulminante, segundo o diretor do PS, Dionísio Monteiro. A mulher estava no local onde 25 mil pessoas realizavam, no fim da tarde de quinta-feira, manifestação em frente à prefeitura, pedindo redução da tarifa de ônibus e passe livre para os estudantes. Familiares da gari contaram que ela, na hora do tumulto que envolveu manifestantes e a Polícia Militar, correu para refugiar-se dentro de um bondinho, juntamente com outras pessoas. Nesse momento, um policial atirou uma bomba de efeito moral no local onde todos se abrigavam. Muitas pessoas, intoxicadas pela fumaça, passaram mal, inclusive Cleonice, que chegou a desmaiar. Socorrida no local, as primeiras tentativas de reanimá-la não surtiram resultado. Levada de ambulância até o PS, ela ficou durante a madrugada sob cuidados médicos, mas o quadro se agravou e ela morreu por volta das 7 horas.
O secretário Municipal de Saneamento, Luiz Otávio Mota Pereira, atribuiu a morte da gari a uma "grande fatalidade". Segundo ele, Cleonice trabalhava na varrição da praça próximo ao palácio Antonio Lemos, juntamente com outros garis. Quando o clima entre os manifestantes e os policiais ficou tenso, os garis suspenderam o serviço. Pereira acredita que a mulher se assustou com o barulho das bombas e na correria teria sofrido uma queda. O médico que a atendeu no PS informou que não havia traumatismo na paciente.
A manifestação foi pacífica até o momento em que um grupo passou a atirar pedras contra o prédio da prefeitura, cobrando a presença do prefeito Zenaldo Coutinho, que chegou a descer do gabinete para conversar na calçada com os manifestantes. Ficou decidido que um grupo seria formado para falar com Coutinho, mas a maioria descartou, dizendo que o prefeito deveria falar com todos. Diante do impasse, Coutinho retornou para seu gabinete.
Em represália, um grupo ameaçava invadir a prefeitura, quando a PM interveio, atirando bombas de efeito moral e tiros com balas de borracha sobre a multidão. Alguns manifestantes revidaram, disparando rojões contra o prédio. A PM informou que mais de 70 pessoas foram presas. Todos já foram soltos.