Brasília, 21 - Depois de ver o Palácio Itamaraty virar o alvo preferencial de vândalos na noite desta quinta-feira, 20, funcionários de todos os escalões se reuniram no fim da tarde desta sexta-feira para dar um abraço simbólico no prédio. Com 60 vidraças quebradas, uma mesa destruída e paredes pichadas e chamuscadas, o palácio, uma das principais obras do arquiteto Oscar Niemeyer em Brasília, começou a ser restaurado ainda na manhã desta sexta-feira.
Chamado pelos funcionários, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, deu a volta no prédio, cumprimentando todos os cerca de 1,5 mil servidores do próprio Itamaraty que participaram do ato. A eles, uniram-se servidores de outros ministérios próximos. Também decidiram participar a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e o ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim.
"Quero transmitir essa mensagem aos jovens: façam de maneira pacífica e suas vozes serão ouvidas e respeitadas. Destruindo o patrimônio público vocês não serão respeitados", afirmou Patriota. O ministro classificou o ato de "um momento de confraternização muito comovente para aqueles que dedicam sua vida ao Itamaraty".
Maria do Rosário considerou a ação uma demonstração de que "com violência não se constrói nada". "Quem usa a violência abre mão de um direito muito importante, que é a palavra, a liberdade de expressão", afirmou. Perguntada se acreditava que a democracia poderia estar em risco, a ministra afirmou que não. "Eu acredito que a democracia brasileira é consolidada, inclusive com a liberdade de opinião. Mas nenhuma manifestação violenta é democrática", disse.
O ministério ainda tenta contabilizar os prejuízos causados na noite de ontem. Sessenta vidraças foram quebradas, parte dos vidros na frente do Palácio foram pichados e uma mesa de mármore se partiu. Parte de uma parede interna foi chamuscada. As bandeiras que ficam em mastros na frente do Palácio foram cortadas e uma delas, a do Mercosul, foi substituída por um pano com declarações contra a PEC 37. Entre os entulhos recolhidos pelos funcionários da limpeza, pedras, garrafas e restos de dois coquetéis molotov.
Nesta sexta à tarde, uma reunião entre representantes do Ministério das Relações Exteriores, da Defesa, do governo do Distrito Federal e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República definiu as ações de segurança a serem tomadas em futuras manifestações. A segurança diária, feita por fuzileiros navais, vai ser reforçada. Já às 6h desta sexta, peritos da Polícia Federal estiveram no prédio para começar uma investigação.
A tentativa de invasão do Itamaraty aconteceu por volta das 20h30 desta quinta-feira, quando parte dos manifestantes que tentavam entrar no Congresso correu para o prédio, que estava praticamente desguarnecido. Uma parte dos manifestantes tomou a rampa de acesso da entrada principal, enquanto outros subiram na escultura Meteoro, de Bruno Giorgi, que fica no espelho d'água do Palácio. Um pequeno grupo, cerca de 20 pessoas, conseguiu entrar no Itamaraty pela rampa de acesso da garagem do ministro Antonio Patriota. O Palácio estava praticamente vazio. O próprio ministro já tinha saído, mas voltou, junto com o secretário-geral, Eduardo dos Santos, quando ficou sabendo da tentativa de invasão. Patriota garantiu que até amanhã todas as vidraças já estarão restauradas.