O serviço municipal de atendimento a pacientes com doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e aids de São Paulo precisa do dobro de médicos infectologistas que tem hoje para conseguir suprir a demanda de novos casos e oferecer um serviço mais próximo do que já foi considerado modelo para o resto do mundo. Essa é a conclusão de um levantamento feito pela Comissão Municipal de Aids nas 15 unidades paulistanas que oferecem esse tratamento.
O órgão, que reúne poder público, sociedade civil e sindicatos de saúde, é um braço do Conselho Municipal de Saúde. Ele analisou os Serviços de Assistência Especializada (SAE) e Centros de Referência em DST/Aids (CR) em relação a questões como oferta de médicos e outros especialistas e infraestrutura das unidades.
Os dados foram obtidos em entrevistas com os gerentes de cada serviço. E foi com base na percepção deles sobre o que seria preciso para oferecer um atendimento humanizado, de qualidade, que se chegou aos números de quantos profissionais são necessários a mais na rede.
De acordo com o levantamento, é preciso ter pelo menos 43 novos infectologistas. As 15 unidades têm hoje 41 desses profissionais. Além dessa especialidade, eles relatam falta também de ginecologistas, sanitaristas, nutricionistas, pediatras, psiquiatras, clínicos, fora assistentes sociais, psicólogos e os chamados AGPP (agentes de políticas públicas), que fazem toda a recepção dos pacientes. Só nessa categoria foi relatada uma falta de 72 profissionais.
“O problema vem dos últimos anos. Não houve investimento adequado e temos um grande número de profissionais se aposentando. Não há reposição”, diz Sérgio Rodrigues, coordenador da comissão. Segundo ele e outros ativistas, com essa precarização do serviço tem ocorrido uma demora de três a cinco meses para o início do tratamento de pessoas recém diagnosticadas.
A percepção foi corroborada pelos gerentes. Uma delas contou que em dois anos sua unidade teve uma redução pela metade no número de infectologistas. “Não tenho condições mais de receber novos casos. Toda semana fecho a porta para 3, 4. Justo quando a pessoa acabou de saber que tem HIV e está mais fragilizada”, diz. “As pessoas sentaram em cima do conceito de que o Brasil era modelo no tratamento e esqueceram de evoluir. Só que o modelo está defasado.”
O próprio secretário de Saúde do Município, José de Filippi Junior, admitiu em maio, em encontro com ONGs ligadas à questão, essa demora. Já Eliana Gutierrez, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids, afirmou que o início do atendimento pode chegar a esse tempo, mas que nos casos em que a pessoa já chega com o sistema imunológico muito abalado o tratamento começa imediatamente. “Três meses é só nos casos menos graves”, afirma. Mas ela admite que faltam médicos e diz que no segundo semestre haverá um concurso para contratar 58 infectologistas.