Vazquez explica que a aposentadoria de médicos no Hospital Cardoso Fontes e no Hospital do Andaraí, ambos vinculados ao Ministério da Saúde, comprometem o funcionamento de alguns setores dessas unidades.
“No CTI do Cardoso Fontes, os médicos anunciaram em 2009 que, em 2011, se aposentariam em massa. Estamos em 2013 e, até agora, não entrou ninguém. No Setor de Queimados do Hospital do Andaraí, que é uma referência, há dez estatutários e oito contratados, cujo contrato acaba em dois ou três meses. A maioria dos estatutários está para se aposentar. Só vão restar dois médicos. O setor vai ter que fechar”, alerta Vazquez.
Na rede municipal, segundo o Cremerj, a falta de médicos coloca em risco também o funcionamento do Programa Saúde da Família, que aposta na promoção da saúde das pessoas para evitar que elas precisem utilizar os hospitais públicos.
“Não tem médicos em todas as equipes de saúde da família, o que faz com que outros profissionais de saúde, como enfermeiros, assumam responsabilidades que não deveriam assumir. Aí a coisa vai ficando mais frouxa e você acaba tendo uma medicina que varia a qualidade de acordo com a classe social, o que é péssimo”, disse Vazquez.
Na rede estadual de Saúde, o déficit é de 12,7%, segundo a própria Secretaria Estadual de Saúde do Rio. Faltam profissionais de pediatria, neurocirurgia, ortopedia e anestesia. De acordo com a secretaria, os salários pagos para médicos é compatível com o oferecido no mercado e, em alguns casos, até superior ao pago por hospitais privados. No entanto, segundo as autoridades estaduais de saúde, há “dificuldades em encontrar profissionais” nessas especialidades.
Vazquez discorda de que haja falta de profissionais de saúde no Rio de Janeiro. O especialista acredita que a aplicação de mais recursos na saúde pública poderia resolver esse problema, junto com uma melhor gestão das unidades hospitalares. Por isso, o Cremerj iniciou uma campanha para coletar 1,5 milhão de assinaturas, pedindo que sejam aplicados 10% do Produto Interno Bruto (PIB) na saúde.
“Hoje o Brasil aplica menos de 4% do PIB na saúde. É menos do que a Argentina, o Uruguai e o Chile, por exemplo. A Argentina investe 4%, o Chile, 4,5% e o Uruguai, entre 7% e 8%”, disse Vazquez, acrescentando que 1,3 milhão de assinaturas já foram coletadas.
O Ministério da Saúde informou que desde 2011 vem buscando recompor os quadros profissionais das seis unidades de atendimento federais do Rio de Janeiro. Desde então, foram contratados 1.717 médicos por meio de concursos ou contratos temporários, enquanto 488 se aposentaram. Já a Secretaria Municipal de Saúde não se pronunciou sobre as críticas.