Na segunda-feira, 1º de julho, mais uma página relacionada às manifestações foi criada no Facebook, mas com um objetivo diferente. Com o título de "O Que É Isso, Cabral?", a página não tem a intenção de marcar novos protestos, mas de reunir o que classifica de provas da violência cometida por policiais durante as manifestações que se espalharam pelo Brasil desde junho.
Com cinco dias de existência, a página tem quase 500 seguidores e recebe, todos os dias, vídeos que revelariam abusos da polícia durante protestos em várias cidades. "Notamos que muita gente estava postando vídeos, fotos e dando depoimentos sobre a violência policial, mas esse conteúdo estava espalhado e provavelmente essas denúncias soltas no Facebook e no Twitter não dariam em nada", explicam os responsáveis pela iniciativa, que não querem se identificar para evitar ameaças e por não terem a intenção de se colocar como líderes.
"O deputado e líder da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia do Rio, Marcelo Freixo, por exemplo, pediu que as pessoas lhe enviassem 'provas', que depois ele entregou para o José Mariano Beltrame [secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro], pedindo a investigação e a redução da violência nos protestos", acrescentam. "Achamos a iniciativa excelente, mas percebemos que muitos dos manifestantes não ficaram sabendo."
Os criadores também consideram necessária uma pressão popular para que as denúncias sejam feitas e os envolvidos, punidos. Com a página, eles pretendem reunir o material enviado, montar vídeos e, posteriormente, enviar para as autoridades, cobrando respostas. Os organizadores também têm a intenção de ampliar a discussão sobre a desmilitarização da polícia.
A ideia veio principalmente depois que os criadores da página participaram da manifestação que reuniu mais de 300 mil pessoas na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, no dia 20 de junho. "Vimos cenas de terrorismo por parte da Polícia Militar. Manifestantes que deixavam a passeata caminhando foram cercados, alvejados por bombas e balas de borracha e tinham que correr para que o Caveirão não os atropelasse. Universidades foram cercadas, o bairro da Lapa foi esvaziado com gás lacrimogêneo sendo lançado dentro de bares e ônibus."
Os organizadores optaram por usar o nome do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), na página para reforçar a ideia de que as ações da PM estariam relacionadas com as ordens do governo do Estado. "Não dá para achar que a maneira como os policiais agem é apenas fruto da criatividade deles. Se são usados caminhões que jogam água, canhões sônicos, balas de borracha, se são gastos milhões de reais na compra de bombas, é uma decisão do governo e não podemos esquecer disso."
Investigação
Sobre a página, a assessoria do governador Sérgio Cabral afirma que "as pessoas têm direito e liberdade de se expressar". Em coletiva na quinta-feira, 4, Cabral afirmou que seu governo não tolera a violência policial. "Qualquer tipo de abuso cometido pela Polícia Militar é investigado, seja ele em uma operação como a da Maré, contra marginais que atiravam contra a polícia, seja na preservação de uma manifestação em que vândalos provocam."
O deputado Marcelo Freixo considera que a criação de páginas como esta é fundamental como forma de pressão popular. "Essas novas ferramentas de comunicação na internet possibilitam um avanço muito concreto, pois a sociedade tem como se manifestar e produzir um avanço que não existia antes. É uma grande lição para todos nós", afirmou.
Freixo diz que recebeu bastante material sobre violência policial. A documentação foi encaminhada ao Ministério Público e ao secretário José Mariano Beltrame que, segundo a Secretaria de Segurança Pública, repassou à Corregedoria da Polícia Militar, que agora investiga as denúncias de abusos durante as manifestações. "No dia 20 de junho, a ação da polícia foi absurdamente despropositada", relata o deputado. "Os enfrentamentos ocorreram nas vias secundárias e só atingiram quem fugia do quebra-quebra, não quem estava quebrando tudo. Eu estava lá e vi. Tive a ideia de pedir provas quando vi a polícia negar oficialmente, dizendo que agiu dentro do seu dever." (Colaborou Luciana Nunes Leal).