No calçadão da Rua dos Andradas, apenas algumas lojas pequenas e farmácias abriram as portas. Ao meio-dia, os poucos profissionais liberais e funcionários de escritórios que encararam o expediente porque se deslocaram em automóveis próprios ou de carona tiveram de formar filas para almoçar nos raros restaurantes que abriram suas portas.
O Sindicato dos Lojistas do Comércio (Sindilojas) estimou que só 30% das lojas da cidade, a maioria nos bairros, funcionaram e, mesmo assim, com raros clientes dentro delas. Com a experiência de quem atua há 32 anos na área do trânsito, o presidente da EPTC, Vanderlei Capellari, admite que nunca havia visto uma greve levar à suspensão total do transporte coletivo de ônibus.
Ao mesmo tempo, atribuiu a adesão à greve a um "certo medo" que trabalhadores teriam sentido diante dos piquetes da madrugada e de falsas informações de que poderia haver depredações na cidade. Tanto a Força Sindical quanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Sul avaliam que a paralisação dos motoristas e cobradores de ônibus foi decisiva para aumentar a adesão de outras categorias à greve.
As centrais só divergem quanto à mobilização. A Força atribui ao trabalho dos sindicatos da área, seus filiados. A CUT atribui à comissão de negociação formada por opositores dos dirigentes atuais dos sindicatos e à própria base. "Além de motoristas e cobradores, pararam também os trabalhadores do comércio e dos serviços", constatou o presidente da Força Sindical, Claudio Janta, referindo-se às consequências da falta de transporte.
Como desobedeceu determinação da Justiça, que exigia oferta de 50% dos ônibus nos horários de pico, o Sindicato dos Rodoviários terá de pagar uma multa de R$ 50 mil.
Diante da paralisação quase total da capital gaúcha, Janta destacou que "a sociedade tem interlocutor e a presidente (Dilma Rousseff) tem com quem sentar e negociar", referindo-se às centrais sindicais e suas pautas específicas como nova tabela do Imposto de Renda, fim do fator previdenciário e destinação de 10% das verbas do orçamento para a área da saúde, sem, no entanto, estabelecer comparações com as recentes manifestações convocadas por jovens em redes sociais.
O presidente da CUT/RS, Claudir Nespolo, reiterou que a pauta dos trabalhadores não se contrapõe à dos jovens, mas estava estabelecida desde 6 de março, quando foi apresentada ao governo e ao parlamento, e pode levar a uma nova greve, em 11 de setembro, se não houver resposta até lá.
A greve desta quinta-feira contou com alguns bloqueios de vias urbanas, feitos nas Avenidas Castelo Branco, Farrapos e Princesa Isabel. Como o movimento de veículos e pedestres era mínimo, não houve congestionamentos e nem transtornos. Os sindicalistas e integrantes de movimentos sociais que participaram do movimento se concentraram em diversos pontos da cidade e caminharam até o centro, onde promoveram atos públicos no final da tarde. Não foram registrados incidentes.
Interior
No interior do Rio Grande do Sul, houve bloqueios de pelo menos dez trechos de rodovias, mas nenhum deles permaneceu pelo dia todo. Os maiores ocorreram em vias de acesso ao porto do Rio Grande, do Sul do Estado, cidades da região metropolitana de Porto Alegre, Lajeado e Caxias do Sul.
Em Sapucaia do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, um manifestante foi atropelado pelo veículo de um motorista que tentava passar pelo bloqueio e teve de ser encaminhado a um hospital. Em Eldorado do Sul, militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) liberaram as cancelas de um pedágio durante a manhã.