Jornal Estado de Minas

Escritora volta a enxergar após troca da cor dos olhos

No Brasil, o procedimento está em fase experimental e ainda não foi aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Estima-se que 600 brasileiras já viajaram ao Panamá para mudar a cor dos olhos.

Agência Estado
 Depois de perder 70% da visão por causa de uma cirurgia para trocar a cor dos olhos feita no Panamá, a escritora carioca Patrícia Rodrigues começou a voltar a enxergar. Patrícia foi submetida a um tratamento corretivo no Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) e em duas semanas terá a visão totalmente recuperada. A cirurgia removeu a película de cor verde que havia sido inserida na córnea de cada olho dela e recuperou os tecidos lesionados - os órgãos voltarão a ter a característica natural, castanho-escuro. Nesta terça-feira, 16, Patrícia recebeu alta e viajou para casa, no Rio.
A técnica, conhecida como transplante endotelial, é um método menos agressivo e de recuperação rápida, de acordo com o médico oftalmologista do BOS Nicolas Cesário Pereira, que fez a cirurgia. As células endoteliais formam membranas internas e são responsáveis por manter a córnea transparente. O implante das películas coloridas na operação feita no Panamá causou uma lesão na membrana e o acúmulo de líquido, tornando a córnea opaca e causando a perda da visão. Normalmente, a dificuldade é corrigida com o transplante convencional de córnea, que exige até um ano para a recuperação completa da visão e tem risco de 23% de rejeição.

No método usado, o implante e a membrana doente foram retirados por uma microincisão na periferia da córnea e substituídos por tecido sadio. O risco de rejeição é de no máximo 1%. No terceiro dia após o tratamento do primeiro olho, a escritora carioca já enxergava e, no sétimo, tinha recuperado 100% da visão. O segundo olho foi operado na semana passada. Patrícia terá acompanhamento pelas próximas duas semanas.

De acordo com Pereira, a técnica do transplante endotelial não pode ser aplicada a todos os candidatos ao transplante de córnea. Ela é válida para pacientes que, além de ter apenas a camada mais interna doente - o endotélio -, apresentem uma quantidade elevada dessas células epiteliais. A técnica ainda é pouco difundida no Brasil. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em 2011 foram realizados 14.182 transplantes de córnea no País. Destes, 20% poderiam ser menos invasivos com a técnica do transplante endotelial, mas o número não chega a 1%.

Patrícia tinha olhos castanhos e desde adolescente usava lentes de contato. Em 2009, incentivada pelo então namorado, um cirurgião plástico, decidiu trocar a cor natural para verde. O procedimento não é realizado no Brasil. Por isso, a escritora viajou para o Panamá. No início de 2013, Patrícia começou a perder a acuidade visual. Em algumas semanas, a questão agravou-se ao ponto de a autora não conseguir mais enxergar o chão ou ver o prato de comida. Patrícia afirma que passou a depender de ajuda para as tarefas mais simples.

A clínica do Panamá é uma das poucas do continente que realizam cirurgias para mudança na cor dos olhos, mas o método não é considerado seguro. No Brasil, o procedimento está em fase experimental e ainda não foi aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Estima-se que 600 brasileiras já viajaram ao Panamá para mudar a cor dos olhos, mas não há dados sobre os casos de perda de visão - Patrícia foi uma das primeiras a tornar pública a complicação.