O grupo cultural AfroReggae, que desenvolve trabalhos sociais em diversas favelas do Rio, anunciou hoje o encerramento de suas atividades no Complexo do Alemão, após sofrer ameaças ao longo da semana. José Júnior, coordenador do AfroReggae, creditou as ameaças a retaliações sofridas desde que denunciou o pastor Marcos Pereira da Silva, líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (Adud), em fevereiro do ano passado.
Segundo Júnior, a decisão foi tomada na sexta-feira, após o grupo ter recebido ameaças, na quinta-feira, de que as instalações do AfroReggae na Favela da Grota, no Complexo do Alemão, poderiam ser alvo de explosão, com a morte de inocentes. No fim da tarde de sexta-feira, Júnior já havia adiantado, pelo Twitter, que teria "péssima notícia" para dar no sábado.
Na madrugada de segunda para terça-feira, um incêndio destruiu o imóvel de três andares onde funcionaria uma pousada do AfroReggae. No mesmo prédio, estava instalada a redação do jornal "Voz da Comunidade", que ganhou notoriedade ao transmitir em tempo real, por meio de redes sociais, a ocupação do Complexo do Alemão em novembro de 2010.
Na ocasião, Júnior já havia acusado o pastor Marcos de estar por trás do incêndio, que teria sido criminoso. Um acusado pelo incêndio foi preso em flagrante. Júnior informou que, depois de quinta-feira, manteve contatos com o governador do Rio, Sergio Cabral, e com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A Polícia Civil segue investigando o incêndio e irá apurar as ameaças de quinta-feira.
Segundo Júnior, as ameaças foram repassadas por um líder comunitário do Complexo do Alemão, que conversou diretamente com ele. "Se o negócio fosse em cima de mim, não ia mandar fechar não, mas como tem crianças e profissionais inocentes envolvidos, resolvemos não colocar essas pessoas em risco", disse. O coordenador do AfroReggae garantiu que as atividades da entidade espalhadas por diversas favelas do Rio se mantêm.
O pastor Marcos está preso desde 7 de maio, acusado de estuprar duas fiéis da igreja. Ele ainda é investigado pela Polícia Civil por homicídios e ligação com traficantes do Comando Vermelho, facção que dominava o Complexo do Alemão até a ocupação pelas forças de segurança.