Lá, a região com mais falta de padres é o entorno da cidade de Caxias, na fronteira com o Piauí. São quase 700 mil habitantes, mas só 30 padres para atendê-los - ou seja, uma média de 21,9 mil habitantes para cada religioso. O problema se agrava na zona rural, onde há povoados cuja igreja só recebe missa uma ou duas vezes por ano.
Esse é o caso de Estiva, um lugarejo com cerca de 30 casas erguido à beira da BR-316, a 52 km de Teresina. Os moradores dali só veem um padre duas vezes por ano - no festejo de Nossa Senhora de Fátima e na missa anual, que neste ano foi rezada em maio. "Os moradores têm de ir para outro povoado para batizar seus filhos", afirmou a professora Conceição Brito, que leciona no local. "Agora está mais fácil. Antigamente, já teve época que, se chovesse, só haveria casamento ou batizado um ano depois", contou José Ribamar Silva, morador da região.
Equilíbrio
Ao analisar os dados, é possível distinguir dois perfis de regiões onde há poucos padres por habitantes. Além de cidades do interior do Nordeste e seu entorno, como Caxias (MA) e Salgueiro (PE), há municípios com maior concentração de evangélicos, normalmente na periferia das grandes capitais. Guarulhos (SP), Nova Iguaçu (RJ) e Duque de Caxias (RJ) estão nesse grupo. A região com maior proporção de habitantes por padre no Brasil é justamente Guarulhos, onde há um padre para cada 24,4 mil habitantes.
"Uma das explicações para haver mais padres no Sul e Sudeste do Brasil é que são os locais com a maior parte da organização eclesiástica. Mas existe uma preocupação da CNBB no sentido de trabalhar para uma melhor distribuição dos padres pelo território", explicou o padre Antonio Manzatto, professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Apesar dessa disparidade, os números mostram que nunca houve tantos padres quanto agora no Brasil. Em 1970, eram 13 mil sacerdotes, número que pulou para 22 mil em 2010. O período de maior crescimento foi justamente de 2000 para cá.
"De fato nós hoje temos um número de padres como nunca tivemos, sobretudo de brasileiros. Até os anos 1980, metade do clero do Brasil era de estrangeiro, eram padres missionários", afirmou ao Estado o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. Para ele, esse número tende a continuar crescendo nos próximos anos. "A Igreja precisa continuar a fazer o que sempre fez a Pastoral das Vocações: zelar para formar bem os jovens, os católicos, as famílias, para que possam despertar vocações." (colaborou Ernesto Batista, especial para O Estado).