Jornal Estado de Minas

Apesar de em menor número, jovens católicos são mais espiritualizados

Juventude não tem unidade quando o assunto é a definição dos valores da religião. Podem ser progressistas ou conservadores

Amanda Almeida
- Foto: AFP PHOTO / CHRISTOPHE SIMON Brasília – As pesquisas mostram que eles estão em menor quantidade, mas, para especialistas, têm uma espiritualidade maior do que a juventude de outras gerações, que, não por opção própria, mas por herança familiar, se tornava católica. O papa Francisco será recebido por jovens católicos brasileiros que, em comum, têm o cumprimento de sacramentos, o culto a santos, a crença em Maria e o respeito à hierarquia da Igreja. Eles, no entanto, não têm unidade quando o assunto é a definição dos valores da religião. Podem ser progressistas ou conservadores. Defendem ou questionam a castidade. Sobre política, parte está desiludida e passiva. Outra saiu às ruas em junho para cobrar o fim da corrupção.

 Sem levantamentos nacionais que coloquem as preferências e pensamentos do jovem católico em números, são os especialistas e o próprio fiel que desenham esse perfil ao Estado de Minas. A comparação entre o Censo de 2000 e de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que houve uma redução, em números absolutos, de 7,3% do total que têm entre 15 e 29 anos. Ainda assim, é menos expressiva que a queda verificada na quantidade de adeptos ao catolicismo em toda a população brasileira, que foi de 12,2% em 10 anos. “A religião era uma herança de família e isso acabou. Hoje, o jovem se torna católico porque quer. Então, embora em menor número, são mais religiosos que outras gerações”, avalia o teólogo da PUC de São Paulo Fernando Altemeyer Júnior.

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O coordenador de comunicação do Secretariado Arquidiocesano da Juventude de Minas Gerais, Ícaro Silva, 21 anos, observa que, embora não tenha sido levantada a bandeira do catolicismo nas manifestações, o papel da religião no contexto dos protestos foi discutido em grupos de igrejas. “Queríamos ver como podíamos nos inserir nesse contexto. Agora, fizemos um grupo na arquidiocese para discutir nosso papel nessas manifestações”, relata.

 Para Silva, os valores cristãos ajudam a fazer a boa política. “Ao pensar no bem comum, somos menos corruptos, por exemplo. Não vamos furar uma fila, por exemplo, o que é também desonestidade”, diz.

 O professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Emerson Silveira, que tem estudos sobre a juventude católica, diz que o interesse por política se divide também pela ala que a pessoa escolhe na religião. “Aqueles que são católicos mais conservadores têm mais ligação com a direita política. Já os progressistas acabam se alinhando à esquerda.”

 Protestos continuamO Grupo Anonymous Rio convocou uma segunda manifestação, para sexta-feira, durante a visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro. A segunda convocatória, para sexta-feira em Copacabana, se segue a uma manifestação prevista para hoje em frente à sede do governo da cidade, coincidindo com a reunião da presidente Dilma Rousseff com o papa. “Não é contra a Igreja Católica. A ideia é aproveitar a presença do papa, dos turistas e da imprensa global", disse o grupo no Facebook, que já convocou outras manifestações de rua em junho na cidade. As manifestações de rua de junho, durante a Copa das Confederações, reuniram um milhão de pessoas contra os bilionários gastos públicos para construir estádios para a Copa diante da falta de investimentos em saúde e educação reivindicados pelos brasileiros.