Brasília – Durante a oração do Angelus ontem, no Vaticano, o papa Francisco pediu aos fiéis, turistas e romanos que o aclamaram na Praça São Pedro que o acompanhem com as orações na viagem que fará a partir de hoje ao Rio de Janeiro. Dezenas de milhares de pessoas estavam no local. Em meio ao público, ele avistou uma faixa com os dizeres “boa viagem” e aproveitou para pedir aos fiéis que o acompanhem “espiritualmente” nesta jornada. “Todos os que estarão no Rio querem ouvir a voz de Jesus: Senhor, o que devo fazer de minha vida? Vocês, jovens presentes aqui na praça, façam a mesma pergunta ao Senhor.”
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O pontífice desembarca hoje na capital fluminense para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que termina no domingo. A tão esperada vinda do papa, porém, causa certa apreensão, principalmente entre os governantes, com o esquema de segurança montado para o evento. A preocupação aumentou basicamente por dois motivos: o registro de depredações de patrimônio público e privado na noite da última quarta-feira no Leblon e em Ipanema e a decisão do papa de andar em carro aberto pelas ruas da cidade, sem blindagem (veja agenda abaixo). O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, manteve a posição nos últimos dias de que não há mudanças e que cabe às autoridades se adaptarem aos desejos do papa – e não o contrário. “Elas (as autoridades) precisam entender a natureza da missão dessa viagem.”
Na contramão do desgaste dos políticos e dirigentes, os desfiles do papa em carro aberto poderão dar uma mostra de poder e admiração de Francisco diante de 350 mil peregrinos inscritos na jornada e de mais de 1,5 milhão de pessoas esperadas na Praia de Copacabana. O Brasil é o país onde há mais católicos no mundo, mas, apesar da força, vem perdendo espaço para outras religiões, principalmente a evangélica. O fato de o papa Francisco ser considerado mais espontâneo e popular – ele gosta de estar próximo aos fiéis sempre que pode e vez ou outra surpreende o esquema de segurança – é um fator positivo para o pontífice e vai de encontro ao luxo e conforto em que vivem muitos políticos brasileiros.
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SÍMBOLOS
A peregrinação da Cruz dos Jovens e do Ícone de Nossa Senhora, símbolos da Jornada Mundial da Juventude, termina hoje, com a chegada do papa ao Rio. Ontem, 16º dia de peregrinação, os símbolos passaram pela Barra da Tijuca. Hoje, a cruz e a imagem devem passar pela Expo-Católica, Barra da Tijuca, e logo após devem ser conduzidos para o palco da Praia de Copacabana. A cruz de 3,8 metros foi um presente do papa João Paulo II, dada aos jovens em 1984. Ela já passou por todos os continentes em peregrinações católicas. Já o Ícone de Nossa Senhora foi dado aos jovens em 2003, pelo mesmo papa.
Três perguntas para... Leonardo Boff
teólogo e autor de mais de 60 livros
1 O senhor acredita que é o melhor momento para a vinda de um papa ao país?
Ninguém está preparado para as irrupções que ocorrem na história. Todo momento é bom para quem sabe tirar proveito dele e detectar as energias positivas que nele existem e sabe evitar as negativas ou ver motivos para a sua transformação. Acho que a linha até agora definida pelo papa de diálogo aberto com todos, de acentuação das transformações necessárias do mundo para enfrentar a pobreza, para superar a crise ecológica e outros temas sociais nos sugerem que a vinda será um reforço à voz que vem das ruas. Ele já disse em Roma: os políticos devem escutar os jovens, a causa deles é justa e é conforme o evangelho.
2 Diante das incertezas a respeito da segurança do papa e das manifestações das ruas, o senhor acha que há uma certa apreensão entre as autoridades brasileiras sobre como será a visita do papa?
O povo é respeitoso face à figura do papa e de autoridades que vêm para o bem, para anunciar a paz e os direitos, especialmente dos pobres. Não creio que haja gente que queira tumultuar essa atmosfera. Se grupos tentarem, certamente terão a rejeição do povo. O papa, ao querer circular emum carro aberto, se expõe a algum atentado possível. Oxalá nada ocorra. Mas algum mafioso italiano que tinha negócios sujos no Banco do Vaticano, se quiser, poderá fazer aqui um atentado à vida do papa. Mas o papa Francisco disse que se sente protegido por Deus. E, se o matarem, é porque Deus quis chamá-lo para si.
3 O papa deve temer as manifestações contrárias aos dogmas da igreja (beijaço LGBT e Marcha das Vadias) e os protestos contra o sistema político brasileiro?
Creio que será respeitado o estilo religioso do evento. Seria de mau gosto e puro oportunismo que ofende o povo e não ajuda na causa se grupos LGBT, Marcha das Vadias e outros aproveitarem a ocasião para fazer suas reivindicações. A população recusaria apoio a eles. Há outros momentos em que tais reivindicações poderão ser suscitadas.
Agenda papal
Hoje, segunda-feira (22)
O papa Francisco chega às 16h à base aérea do Galeão, onde será recebido pela presidente Dilma Rousseff. Logo depois, o pontífice vai de carro fechado até a Catedral Metropolitana, de onde embarca no papamóvel em direção ao Theatro Municipal. Em seguida, do 3º Comando Aéreo Regional (Comar) vai de helicóptero para o Palácio Guanabara. Na sede do governo do Rio, Francisco participa de cerimônia com Dilma, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito Eduardo Paes.
Amanhã, terça-feira
Francisco dedica o dia a compromissos de agenda privada na residência do Sumaré, na Zona Norte do Rio.
Quarta-feira
De helicóptero, o papa vai ra Aparecida (SP), onde celebrará a Santa Missa no santuário nacional. No início da noite, ele visita o Hospital São Francisco de Assis, no Rio, e lá também fará um pronunciamento.
Quinta-feira
Pela manhã, o prefeito Eduardo Paes entrega ao papa as chaves do Rio de Janeiro. Em seguida, o pontífice segue para a comunidade da Varginha, no Complexo de Manguinhos (Zona Norte). Depois, está prevista uma reunião com peregrinos argentinos no Terreirão do Samba, no Centro. A inclusão do encontro na agenda oficial da Jornada Mundial da Juventude foi feita ontem, a pedido do pontífice. Por volta das 17h, o papa chega de helicóptero ao Forte de Copacabana, para participar da Festa da Acolhida. Depois, segue de papamóvel até o Leme, onde está o palco principal. O papa fará um discurso e
abençoará os jovens.
Sexta-feira
Pela manhã, na Quinta da Boa Vista, o papa ouve a confissão de cinco jovens, um de cada continente. Depois, segue para o Palácio São Joaquim, residência oficial do arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, onde se encontrará reservadamente com cinco jovens detentos. Ao meio-dia, Francisco rezará a oração do Angelus no balcão do palácio. Após o almoço com o arcebispo e jovens estrangeiros, retornará ao Sumaré. Francisco volta a Copacabana no início da noite, onde ocorrerá a encenação da via sacra com os jovens.
Sábado
Pela manhã, Francisco celebra a Santa Missa na Catedral da cidade com os bispos da JMJ, com sacerdotes, religiosos e seminaristas. No Theatro Municipal, às 11h30, ele fará um discurso para políticos, diplomatas, empresários e representantes das maiores comunidades religiosas do país. No início da noite, vai para o Campus Fidei de Guaratiba, onde fará a Vigília de Oração com os jovens.
Domingo
De manhã, Francisco segue para Guaratiba, de helicóptero. No caminho, ele sobrevoará o Cristo Redentor. Às 10h, no Campus Fidei de Guaratiba, começa a Missa de Envio da JMJ Rio 2013, com a presença da presidente Dilma Rousseff. Às 19h, o papa embarca no Galeão de volta à Itália.